Alexandre Pais

Um sábio chamado Iker Casillas

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Nunca percebi o que leva futebolistas profundamente identificados com um clube a procurarem outro – por norma em fase adiantada do seu percurso profissional e a troco de um punhado extra de dólares. Não me refiro a casos que têm mais a ver com uma bem sucedida gestão de carreira do que com fatores emocionais, como o de Figo, que conseguiu sair do Sporting para estar cinco anos no Barcelona, outros cinco no Real Madrid e mais quatro no Inter, ou de Ricardo Carvalho, que ganhou a Taça UEFA e a Liga dos Campeões com o FC Porto, para vestir a seguir as camisolas do Chelsea, do Real Madrid e do Mónaco, atuando hoje ainda – aos 39 anos (!) e a um nível absolutamente inacreditável – nos chineses do Shanghai SIPG, de Hulk e Vilas-Boas. Esses são jogadores globais, cidadãos do Mundo.
Com isto, quero chegar a uma das boas notícias da semana finda: a da continuidade de Casillas no FC Porto. Após longas semanas de especulações, que deram o guarda-redes a caminho de destinos diversos, aconteceu o que eu sempre esperei: ele fica.
Para nomes com o estatuto e a mediatização de Iker, clubes interessados nunca faltam e cheques a acenar também não. Mas para um homem que já ganhou tudo e que permanecerá, até ao fim, umbilicalmente ligado ao Real Madrid e aos seus adeptos – que um dia de bom grado o acolherão de novo – o dinheiro deixou de ser o mais relevante. Forçado a abandonar o maior clube do Planeta, que cobra aos melhores servidores o mais pequeno deslize e onde a intriga tem o pé leve, Casillas não poderia ter feito escolha mais feliz para continuar a jogar do que Portugal, o Porto e o grande emblema da Invicta. Em dois anos, pese o facto de a equipa azul e branca ter atravessado fase de menor rendimento, Iker ganhou o carinho da plateia portista e juntou à admiração pela qualidade futebolística o respeito de todos. Podendo ficar também como referência futura do FC Porto, ia agora jogar para onde lhe dessem mais umas notas? Sábia decisão a sua.
Mas o acordo para a continuidade, apesar do inevitável esforço financeiro, é igualmente muito bom para o clube e para o novo treinador. Para o Dragão porque mantém a visibilidade acrescida que a vinda de Casillas lhe trouxe, e para Sérgio Conceição porque pode começar a construir a equipa de Maxi Pereira para a frente, sabendo que terá na baliza um dos grandes guarda-redes mundiais.
Termino com um exemplo do que me referi no início: Pepe vai jogar no Besiktas para ganhar mais uns milhões, ou talvez não, veremos no fim. Já o escrevi aqui: foi mau para o duplo campeão europeu não ter querido seguir no Real. Mas péssimo, mesmo, vai ser para os madridistas, que em breve – e demasiado tarde – verão a estupidez que cometeram.
Outra vez segunda-feira, Record, 10JUL17

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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