Alexandre Pais

Alegrias eleitorais

A

A noite das autárquicas trouxe-me algumas alegrias, bem precisava.
Para começar, e como lido mal com a injustiça,
gostei da vitória de António Costa,
em Lisboa. Passou dois anos a pagar as dívidas que herdou e quatro a tentar devolver à
cidade o estatuto europeu que se perdeu. Mas uma palavra é devida a Fernando
Seara, que travou uma batalha inglória, desde cedo condenada ao insucesso,
mesmo assim prosseguida com determinação e coragem.

Agradou-me também o triunfo sobre a meta de Basílio Horta,
em Sintra, que constitui mais uma medalha na sua longa carreira política.
Ajudou a crescer o CDS, foi um contundente adversário de Mário Soares nas
presidenciais de 1991, serviu o País como ministro em quatro governos e, entre
muitos outros cargos, teve recente e já saudosa passagem pela liderança da
AICEP. O apoio de Soares à sua candidatura
independente
nas listas do PS, bem como o de Jorge Sampaio e o de Freitas
do Amaral, mostram como tudo pode mudar desde se as pessoas tiverem dentro de
si a capacidade de gerar essa mudança. O último (?) combate de Basílio Horta é
igualmente uma lição de vida.

O motivo maior de satisfação, encontro-o, no entanto, na
conquista de 11 câmaras por candidatos independentes, quase todos dissidentes
dos partidos que lhes tiraram os tapetes debaixo dos pés, pondo em causa o seu
emprego e o dos amigos – era o que faltava. Não foi o caso de Rui Moreira, que
desenvolveu, no Porto, uma campanha extraordinária, sem apoio de máquinas poderosas e com o odiozinho
daquela intelligentsia comentarista
sempre preocupada em mostrar serviço e assegurar o futuro. Um lugar de
deputado, de ajudante de ministro ou, quem sabe, uma posterior aventura
autárquica precisa de muita escritura e
muita faladura. Foi ainda contra esse
polvo que o novo presidente da edilidade portuense se bateu e ganhou.

Aliás, PS e PSD ficaram com muito para meditar, apesar da
indesmentível vitória de um e da compreensível derrota do outro. É que os
socialistas podiam ter obtido melhores resultados e os sociais-democratas saído
do dia negro bem menos chamuscados se as respetivas direções nacionais não
tivessem cedido à pressão das concelhias que
elegem os líderes e que colocaram vorazes manuéis
dos aparelhos
em desafios que exigiam gente de outro gabarito. É verdade
que Seara, Meneses ou Moita Flores não tiveram êxito, mas esses não foram
vencidos por menor dimensão, o que os perdeu foi o que os eleitores pensaram
ser excesso de gula. Veremos agora se os independentes não engordarão, também
eles, uma clientela ex-apparatchik à
qual sobra em apetite o que por vezes falta em vontade de trabalhar. Hum, não
sei, não…

Observador, crónica publicada na edição impressa da Sábado de 3 outubro 2013
 
 

Por Alexandre Pais
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