1. Quando entro num avião, domina-me a desconfiança. Não sei se chegarei ao meu destino e tremo igualmente com a probabilidade de ter confiado a minha vida a gente impreparada. Não é a regra, eu sei, mas desde que o Costa Concordia naufragou por causa do comandante bêbado e que o Airbus A330 da Air France se despenhou no Atlântico por incompetência dos pilotos, como decorre do relatório final...
Crónicas da Sábado: daltonismo colectivo
Pedro Coelho, um dos maiores repórteres da televisão portuguesa, publicou na SIC um trabalho que revela a facilidade com que certos políticos aproveitam o desempenho de funções públicas para arranjarem um lugar ao sol na vida profissional, a maior parte das vezes ao serviço de empresas que de alguma forma beneficiaram de anteriores decisões suas ou do governo que integraram. A reportagem tinha...
Crónicas da Sábado: os demónios da noite
Estou assim entre as nove e as dez. Balanço entre a herança genética do meu pai – que dormia facilmente em qualquer circunstância e que não ficava bem com menos de uma dezena de horas de sono em 24 e talvez por isso tenha chegado aos 94 anos – e a da minha mãe – que noite em que durma três ou quatro horas é noite de festa e a verdade é que já vai nos 92. O que parece indicar não haver uma relação...
Crónicas da Sábado: sinais dos tempos – 3
1. Aprendi a nadar com um mergulho, já um pouco tarde, ia nos 13 anos. Brincava com o mar na praia da Parede, numa rara nesga de pedra plana, quando veio uma onda mais forte e da cabeça enrolada lá em baixo até ficar fora de pé decorreram dois segundos, pelo que houve que dar às pernas e aos braços para voltar a pisar os pedregulhos. Anos depois, senti-me atraído pela caça submarina, ainda me...
Crónicas da Sábado: destrambelhados com a Seleção
A Selecção de futebol passou de novo a fase de grupos de uma grande competição, o que aconteceu pela quinta vez consecutiva. Desde 2004, quando Luís Felipe Scolari nos fez redescobrir a Bandeira e o Hino, e nos tornou vice-campeões da Europa, que a turma das quinas vai conseguindo cumprir o velho sonho de Ricardo Ornellas (1889-1967) – nome mítico do jornalismo dito desportivo – que a designou...
Crónicas da Sábado: Tony Carreira não gosta de entrevistas
Tinha um primo que desconfiava dos homens que pintavam o cabelo. Então dos que usavam capachinho nem queria ouvir falar. Aliás, ele não entendia, sequer, os que sofrem com o desbaste capilar natural e se metem a tentar disfarçar os danos, com penteados ridículos. Dizia-me ele que quem encara a calvície com desespero ou quem não admite, simplesmente, o facto de o cabelo embranquecer, é porque pode...
Crónicas da Sábado: estou farto da passarada
Maldito seja o dia em que a jornalista Márcia Bajouco me apresentou aos Angry Birds, balançava eu entre o iBasket e o Bejeweled, o 2, porque nunca fui fã da versão Blitz, ao contrário do clã familiar, que dispõe de campeãs caseiras com pretensões expressas no Facebook, jogadoras de outro gabarito, está visto. Creio que comecei, long, long time ago, pelos desaparecidos jogos de vídeo, daqueles em...
Crónicas da Sábado: tudo ficou em Marte
O Borda d’Água foi a minha primeira revista, há recordações que só mesmo a SÁBADO me traria à memória… Teria para aí 8 anos quando, nos idos de 50, o meu avô Miguel, pequeno agricultor beirão, me dava lições sobre sementeiras, depois de desfolhar a pequena publicação, impressa com qualidade rudimentar, a uma única cor, que ele adquiria por encomenda, religiosamente, ano após ano. A...
Crónicas da Sábado: ir à luta é o caminho
Fiquei desempregado três vezes em quase meio século de actividade profissional e sei do que se trata: de uma situação desesperante do ponto de vista financeiro e humilhante pelo estigma social que estupidamente se abate sobre quem ficou sem trabalho. Teria, por isso, todos os motivos para participar no coro de indignação que se seguiu às pouco felizes declarações de Passos Coelho. Mas a verdade é...
Crónicas da Sábado: do Tarzan ao Marquês
O primeiro herói canino da família chamava-se Tarzan, Johnny Weissmuller estava na berra. Era de uma raça de vira-latas que – à semelhança de tantos homens bravos, desgraçadamente sem continuadores – hoje já não se fabrica. Nos idos de 50, não havia pão nem para malucos e um quatro-patas alfacinha tinha mesmo de se fazer à vida, uma vida espartana, com restos de comida no prato e cama de...