Maldito seja o dia em que a jornalista Márcia
Bajouco me apresentou aos Angry Birds, balançava eu entre o iBasket e o Bejeweled, o 2, porque
nunca fui fã da versão Blitz, ao
contrário do clã familiar, que dispõe de campeãs caseiras com pretensões
expressas no Facebook, jogadoras de
outro gabarito, está visto.
Creio que
comecei, long, long time ago, pelos
desaparecidos jogos de vídeo, daqueles em que se ligava a consola ao televisor
e cujo grafismo primário bastava para o deslumbramento total. Muito mais tarde,
viciei-me no Tetris, que conservo num
velho Mac, bem como no Prince of Persia, que jamais consegui
terminar, pois morria sempre no alto de uma estúpida torre.
A seguir,
já na década de 90, vivi anos felizes, inesquecíveis, com uma consola Nintendo e o meu amigo Super Mario, em cujas múltiplas
aventuras participei por milhares de vezes, com destaque para o Mario Kart, em que me tornei imbatível.
Foram horas e horas, demasiadas certamente, roubadas à música, ao cinema e à
leitura, pela nobre causa do divertimento juvenil, que tem um sabor especial
quando acontece fora dos prazos estipulados pelo relógio da vida. E no meu caso
havia ainda um plus: uma inebriante
sensação de alívio e glória, por ter chegado atrasado mas a tempo.
Não sei
porquê, perdi o élan com o boom da Playstation e não me habituei aos jogos de PC. O advento do novo
século trouxe-me responsabilidades profissionais que me retiraram espaço ao
lazer e só quebrei o jejum há poucos anos, quando apareceu a Xbox 360, com uma série absolutamente
viciante: a do Halo, com três edições
soberbas, a que se juntariam o Halo Reach
e o Halo Wars, este último um duelo
de estratégia, talvez menos empolgante.
Foi um fogo
fátuo, intenso mas breve. Com alguma pena, já que os Halo obrigam a raciocínio rápido e dedo ligeiro, e são de todo
desaconselhados a quem seja lerdo a pensar e hesitante a actuar. Como não
padeço muito desses males, alcancei cedo os níveis de dificuldade máxima e
fartei-me depressa. Talvez o Halo 4,
a lançar ainda este ano, me convença a voltar a combater os Covenant e a impedir a extinção da raça
humana, aliás um sacrifício inútil, uma vez que, como sabemos, a raça humana
não pára de se extinguir a si própria.
Nos últimos
anos, a minha lua foi invadida pela praga dos Angry Birds, já que à original e mal humorada passarada mata-porcos
sucedeu o bando Seasons, depois o Rio e o Space… E o upgrade para
o iPad potenciou a dimensão da
anormalidade, pelo que me encontro, apesar de vivo, bastante combalido.
Acredito na
regeneração do homem e agarrei-me agora ao Pool+,
uma aplicação de snooker, simpática e
pouco stressante. Salvar-me-ei, Senhor?
Observador, crónica publicada na edição impressa da Sábado de 6 junho 2012. Tema de Sociedade da semana: jogos…