A comida de cão está longe de ser o pior que se associa à imagem do melhor amigo do homem. Vejamos, por exemplo, o mundo-cão. Houve tempos em que pensei que o pesadelo terreno se resumia aos filmes com esse título, um original e diversas sequelas que nos exibiam um sem número de aberrações. Em Portugal, o Jornal do Incrível atingia nessa altura tiragens recorde e a janela ampla sobre o Planeta...
Textos da Sábado: Crónica em pedaços – 2
1. Não devia escrever que ouço falar de Manuel Alves há longos anos. Qualquer dia, tudo se passou há já tanto tempo que se pode pensar que eu sou para aqui algum velho. A verdade é que Manuel Alves, cujo talento como estilista sempre admirei, é rapaz da minha incorporação. E tem, igualmente, em comum comigo, a determinação e a capacidade de resistência dos anciãos da tribo. Muitos chegaram e...
Textos da Sábado: crónica em pedaços
1. Se não me falham as contas, esta é a minha crónica n.º 300 nas páginas de Sociedade da SÁBADO. Como sei que há leitores que me acompanham desde a data do primeiro delito, em Maio de 2004, aqui temos nova confirmação da incrível resistência do ser humano. Agradeço a todos os que fazem o favor de me aturar, até porque sei que nem sempre fui exacto e muitas vezes escrevi mesmo o que não se...
Crónicas da Sábado: Natascha Kampusch e Carlos Castro, duas autobiografias
Gosto de biografias, desde que não sejam escritas pelos próprios, nem pelos inimigos. Os protagonistas tentarão sempre ampliar a sua importância na História, ou mesmo numa história pequenina, e os seus detractores nada mais pretenderão do que ganhar algum dinheiro e denegrir ao máximo a verdadeira dimensão do visado, procurando reduzir-lhe o estatuto social. Enfim, podemos dizer que… é dos...
Crónicas da Sábado: Carlos Castro, o ingénuo egocêntrico
Fiz em 1987, para a revista Élan, aquela que deve ter sido a maior entrevista que Carlos Castro deu em 35 anos de actividade como cronista social. Trabalhei depois com ele, até 2003, com alguns interregnos e muitas divergências. Nunca mais o encontrei. Já não precisávamos um do outro, utilizámo-nos em simultâneo: o Carlos para receber a sua retribuição, eu para vender mais papel. A nossa conversa...
Crónicas da Sábado: 2011, o ano de todas as dúvidas
Com o céu carregado de nuvens, cinzentas de pessimismo, chegámos, enfim, ao ano de todas as interrogações. Ninguém se atreve a diagnosticar nada para além do que é consensual: o dilúvio. E como o oráculo – Medina Carreira, 80 anos no próximo dia 14 e na plena posse dos seus dons – garante que a crise é endémica e vai durar, o mar de dúvidas que temos pela frente é imenso. A primeira onda do...
Crónicas da Sábado: a contradição do WikiLeaks
Não me perguntem porquê, mas não consigo sentir a mínima simpatia por Julian Assange, o australiano que manda no WikiLeaks. Provavelmente porque, ao contrário de uma suposta maioria de companheiros de profissão, corro por fora da corporação, o que desde logo significa que não me identifico com a casta a que muitos julgam pertencer. E vejo que Assange transpira pretensão – no mínimo, a de ser...
Crónicas da Sábado: estou em falta com a renda
Na última recolha do Banco Alimentar não sei o que me impressionou mais, se o novo máximo de doações dos portugueses, se o número de voluntários que se disponibilizou para ocupar o seu tempo livre a armazenar milhares de toneladas de produtos. E vou passar a sentir dificuldade em classificar como doente – e tantas vezes aqui o fiz nos últimos seis anos – uma sociedade que exibe esta capacidade de...
Crónicas da Sábado: inimigos só os do banho
A motivação é simples: aversão à água, ódio ao sabonete e repulsa pelo cheiro a lavado Uma jornalista, em tempos muito badalada por motivos não relacionados com a profissão, ficou bastante irritada com a minha última crónica. Diz que não conhece um único ginásio em que as pessoas tomem banho juntas… Não escrevi nada disso, mas o desagrado da senhora, expresso nas redes sociais, calcule-se...
Crónicas da Sábado: uma herança para o lixo
Portugal jogava com caricas de Laranjina C e a Espanha com tampas de cerveza San Miguel Não, não quero que ninguém me deixe em herança qualquer colecção, a não ser que seja de barras de ouro, está bem de ver. Nunca fui rapaz de juntar nada de significativo, quanto mais não fosse porque me via invariavelmente confrontado com o futuro: um dia, como resolveria o cancro, progressivo e imparável, do...