Alexandre Pais

Quem não tem Matheus caça com Morita

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A ala de Alvalade do hospital dos tontinhos do país parece anestesiado mas não está: treme assim que o Sporting não ganha. Não consegue ouvir, desconhece o raciocínio básico, não entende explicações e começa de imediato a mandar vir. Esta época, entrou cedo em atividade, logo na primeira jornada da liga, após o empate no estádio de um dos candidatos ao título. O alvo dos anormais é Rúben Amorim, que passa de bestial a besta a cada golo sofrido pelos leões. Como se o plantel visse partir, por absurdo e de repente, Adán, Coates, Inácio e Porro, se pudesse culpar o treinador pela natural permeabilidade da defesa que restasse.

É o que acontece com o meio campo leonino após as saídas de Palhinha e Matheus Nunes. Não se perdeu apenas um dos ‘muros’, foram-se de uma assentada os dois, em nome não só do equilíbrio das contas, mas até para “fazer face a coisas básicas do clube”, Amorim ‘dixit’. E sem capacidade financeira para voltar ao mercado ou sabendo-o já muito ‘escolhido’, o técnico meteu ombros a uma das tarefas que mais se distinguem no seu currículo: ‘inventar’ soluções, preparando ‘para ontem’ jogadores que precisariam de um período maior de crescimento. Um trabalho que, como esclareceu Sérgio Conceição a propósito de problemas semelhantes com que se tem debatido no FC Porto, não se faz em dias.

A cedência de primeiras figuras de um plantel tem custos óbvios por muito talento e boa vontade que tenha o homem a quem cabe gerir os recursos humanos. E esses custos foram bem visíveis no clássico de sábado, em que o meio-campo portista deixou a nu o evidente menor ‘andamento’ dos peões sportinguistas a atuar no ‘miolo’. Ugarte, com o estatuto que foi ganhando ainda no tempo de Palhinha, passou relativamente incólume, Porro e Matheus Reis são sempre vistos como alas ou laterais e por isso desculpados, pelo que os males da pátria leonina estão a ser atribuídos pelos ‘ultras’ à vítima mais a jeito: o internacional japonês Morita, que aterrou há ano e meio nos Açores de borla e terá custado menos de quatro milhões de euros ao Sporting. Mesmo assim, esteve quase a fazer história com aquele remate ao poste – que mudaria talvez os caprichos da sorte no Dragão – antes de tombar, esgotado, ao lado do igualmente bravo Ugarte, na teia venenosa de Otávio, Pepê, Uribe e Bruno Costa, armamento pesado.

Aos 27 anos, não será já enorme a margem de evolução de Morita, mas ele pode muito bem ser – e vê-lo-emos em jogos em que nem tudo corra mal ao Sporting – o médio capaz de cumprir o que Amorim precisa dele. Porque tem duas qualidades importantes: capacidade técnica e coração. Até lá, é ter paciência para os maluquinhos e seguir em frente.

Último parágrafo para William Carvalho, um dos poucos grandes jogadores portugueses que não está num clube da primeira linha europeia. Apesar disso, o Bétis de Pellegrini é hoje uma excelente equipa, mas agora o Monza, que lutará, na Serie A, para não descer de divisão? Pois, eu sei, há que ter em conta aquilo com que se compram os melões, é a vida.

Outra vez segunda-feira, Record, 22ago22

Por Alexandre Pais
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