Alexandre Pais

O tijolo e o berlinde de Pacheco Pereira no Dragão

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O berlinde e o tijolo.
Para ilustrar o excesso de ruído sobre o próximo Orçamento de Estado, que o Governo se propõe fazer aprovar na AR, Pacheco Pereira levou para o último “Quadratura do Círculo”, da SIC Notícias, um tijolo a que chamou “realidade” e um pequeno berlinde que designou por “novidade”. Podíamos caricaturar da mesma forma o início de época do FC Porto, que aparentemente formou um plantel fortíssimo – com a vénia de quase toda a comunicação social, eu incluído… – que começa, afinal, a revelar-se um modesto berlinde perante o tijolo que cai sobre a cabeça dos adeptos do Dragão.
Um guarda-redes sofrível.
Com a chegada de Julen Lopetegui, a SAD azul e branca consentiu que se repetisse a fórmula já perdedora em tantas ocasiões – lembram-se da armada britânica que desembarcou na Luz, no tempo de Souness, e pela qual o Benfica pagou bem caro quando quis recambiá-la? – e contratou espanhóis por atacado. Junto a pérolas com talento e escola, como Óliver ou Tello, arribou gente mediana, parte dela repescada de empréstimos a emblemas menores, e ainda um guarda-redes sofrível, que está longe de poder corresponder às exigências de um clube de topo.
Bandeiras de oito países.
É que ter muitos jogadores estrangeiros da mesma nacionalidade é tão difícil como gerir um plantel que é uma sociedade de nações. E o FC Porto vive, nesta altura, ambas as realidades. Ontem, nos dragões, tivemos seis espanhóis, três brasileiros, dois colombianos, um mexicano, um argelino e… um português. O Sporting também apresentou as suas Nações Unidas: Espanha, Brasil, Argentina, Colômbia, Argélia, Peru e Portugal – mas craques portugueses foram sete, um luxo.
O erro de não pôr Quaresma.
O maior contra de ter muitos profissionais da nacionalidade do treinador é a tendência natural do técnico para apostar neles e justificar a insistência com que defendeu o investimento. Mas Lopetegui não errou só por ter metido compatriotas a mais no onze inicial – não se terá perdido no banco a grande forma da pré-temporada de Rúben Neves? – falhou igualmente na costela de psicólogo que por certo terá. Depois de jogar apenas alguns minutos na Dinamarca e de executar o excelente centro para a cabeçada de Cristiano que deu a vitória à Seleção, mandava o sentido de oportunidade e o bom senso que Ricardo Quaresma fosse titular. Motivação não lhe faltava. O curioso é que quanto mais a poeira assenta mais se afirma Marco Silva, a inquietante dúvida, e se enterra Lopetegui, a serena certeza.
Na minha baliza é que não.
Quando vi Marcano fazer a “assistência” para o terceiro golo do Sporting – após ter marcado o primeiro na própria baliza – lembrei-me antes, evidentemente, do glorioso Rubin Kazan, mas logo a seguir também do José Neves de Sousa, o mestre, que um dia, ao ver-me entusiasmado com um reforço do Belenenses, um avançado de seu nome Madaleno, me disse: “Com esse nome, não dá, não pode ser grande coisa…” E não era. Por isso, se tentassem impingir-me um Marcano só se fosse avançado. Porque junto à minha baliza e com esse nome é que eu não o queria. Escuso de explicar porquê.
Contracrónica, Record, 19OUT14
 

Por Alexandre Pais
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