Com um passivo que se estima em cerca de 430 milhões de euros, o Benfica travou, enfim, a bola de neve que o ameaçava conduzir um dia à insolvência. Mas não se trata apenas da vitória da crua realidade dos números e muito menos da tomada de consciência que transportou o bom senso para Luz. O que se passa é simplesmente a preocupação de um homem com a forma como a história do Benfica virá a registar a sua ação e o seu nome. Evitada a bancarrota, recuperada a credibilidade, arrumada a casa, restaurada a dimensão europeia e conquistados os títulos, Luís Filipe Vieira sabe que está hoje mais perto de concluir o seu magistério e que subsiste, e até se agravou, um problema pelo qual não quer ser recordado: o do passivo.
Vieira compreendeu que só investindo na equipa poderia ambicionar retirar ao FC Porto uma hegemonia que se alargava por décadas, e o bicampeonato travou, para já, essa hegemonia. Agora, chegou a altura de aproveitar os 400 milhões de euros do novo contrato com a NOS e de iniciar a obra de “zerar” o passivo – e com isso assegurar um lugar nas páginas da frente, talvez até o de maior presidente de sempre do clube.
A dificuldade principal é que a popularidade dos presidentes tem muito, muitíssimo a ver com os resultados desportivos, além de que vivemos num país em que a banca não para de resvalar e em que tudo o que se julga poder fazer hoje é capaz de não ser possível amanhã. Veja-se como Cavaco Silva, que dá também tanta atenção ao modo como a História o julgará, já não se livra da imagem de deixar Portugal com um governo de esquerda – o horror em vida, coitado.
Canto direto, Record, 14DEZ15
O papel de Luís Filipe Vieira na história do Benfica
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