Alexandre Pais

Na despedida de Marta Louro

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Mesmo de fora, sinto o silêncio e a consternação que perpassam pela redação do CM e da CMTV – e por toda a Cofina – após a trágica morte da jornalista Marta Louro.

Admiramos todos, e justamente, a coragem dos repórteres de guerra, na Ucrânia, e quase não reparamos no esforço tremendo que é exigido aos novatos que escolhem esta profissão fascinante mas madrasta. Porque é no aperto e na entrega dos jovens à sua sorte que se faz a triagem entre os que resistem às contrariedades e mostram capacidade para prosseguir e os que têm mais vocação para empregados de escritório – e que logo queremos ver pelas costas.

A Marta pertencia ao primeiro grupo, ao daqueles que percebem que uma carreira jornalística só é possível com empenho total, trabalhando mais e executando melhor. E dava o máximo quando um traiçoeiro acidente lhe roubou a vida.

Sei o que os seus pais sofrem porque passei por essa provação, mas não posso calcular sequer o que é a dor de perder uma filha minutos depois de a ver, em direto, no combate diário. Curvo-me, pois, perante a profunda amargura de António Louro, pai de Marta, um homem dedicado a servir os outros e que, também por isso, merecia ser poupado a esta pena tão injusta e tão cruel.

Sentido abraço, comandante.

Antena paranoica, Correio da Manhã, 30abr22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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