Alexandre Pais

Isto está a correr mal aos arrivistas do Sporting

I

Com vários despedimentos consecutivos, uma falta de sorte recorrente e o trabalho encalhado aos 58 anos, quis o destino que José Peseiro apanhasse aquele comboio que raramente apita duas vezes. Saiu-lhe Sousa Cintra na condução da máquina e o treinador voltou a carregar na mala de viagem os seus melhores argumentos: sabedoria, experiência, seriedade, dedicação e um conhecimento profundo do futebol português. Os pozinhos da fortuna, esses, sabe lá ele por onde andam!
Encontrou Peseiro uma constelação de estrelas em fuga, um plantel esfrangalhado, uma SAD convalescente e um clube dividido em mil grupos de irmãos que se odeiam fortemente. Mas procurou arrumar a casa e reconstruir a equipa, convencendo os jogadores que sobraram – e os poucos que se lhes foram juntando – que tinham pela frente uma oportunidade de ouro para se afirmarem ou relançarem as carreiras. E foi com esforço e sofrimento que o técnico de Coruche levou o Sporting às duas vitórias iniciais no campeonato e chegou à terceira jornada com uma gestão apertada do poucochinho. Para não estranhar a ausência do azar, que nunca lhe falha, à baixa de Bas Dost para o dérbi teve de somar o impedimento inesperado do Bas Dost da defesa: o central Mathieu. Tudo se encaminhava para o desastre, até porque o adversário vinha de um empate dececionante com o PAOK e a plateia rubra clamava por vingança.
Expectativas frustradas. A primeira hora na Luz foi dos leões, não por terem jogado mais, mas pela disputa da partida taco a taco, com personalidade, boa atitude competitiva e a qualidade tática com a marca de Peseiro. A ajuda suplementar veio do rival, da sua escassa competência na área da verdade e de um enormíssimo Salin – quem diria? – que não permitiram ao Benfica a vantagem no marcador.
Na última meia hora, foi um Sporting ainda sem 90 minutos nas pernas que aguentou a avalancha encarnada e segurou bravamente o empate, coroando um início brilhante de temporada, face às circunstâncias, e obtendo um resultado transcendente perante a ameaça do assalto ao poder dos novos arrivistas de Alvalade, que precisam desesperadamente do insucesso da equipa antes de 8 de setembro e veem o tempo passar sem que a casa venha abaixo. É: isto está a correr-lhes mal, por culpa dos jogadores, feridos no seu orgulho, dos velhos sábios da tribo, chamados a repor a ordem, e de um comandante que, tantas vezes sem os favores dos deuses, é um homem bom e um treinador competente. Todos, são uma lição para o desvario e para a ambição desmedida.
Contracrónica, Record, 26AGO18

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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