Alexandre Pais

Eu é que não lhes dava emprego

E
Passos Coelho tem aproveitado bem – por vezes até bem de mais – os últimos rombos na segurança do país. Há dias, esteve feliz ao acusar o Governo de só servir “quando as notícias são boas”. Já Luís Montenegro, líder da bancada parlamentar do PSD, foi menos hábil ao dizer, a propósito do furto de armas e munições em Tancos: “Tem de haver alguma anomalia nos processos de vigia e de fiscalização, esperemos que não seja falta de pessoal”.
Como se não tivesse sido durante a passagem de PSD e CDS pelo poder que se acelerou – sim, a irresponsabilidade já vinha detrás – o brutal corte de meios, materiais e humanos, das Forças Armadas. Foi essa ação despudorada e persistente que esvaziou os quartéis e levou agora ao furto de toneladas de material de guerra. E Montenegro tem o desplante de afirmar que “esperemos que não seja falta de pessoal”?
Por outro lado, se em Tancos não havia videovigilância há dois anos, se a vedação está podre, se os cabos de pressão não funcionam, se a ronda chega a ficar 20 horas sem se fazer, como é possível que o ministro da Defesa não tenha resolvido, em 19 meses (!), um problema tão grave? Possível é, mas apenas porque tanto o Governo como a oposição também desinvestiram no topo e têm hoje de recorrer a um tipo de gente a quem ninguém de bom senso daria emprego.
Observador, Sábado, 6JUL17
Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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