Alexandre Pais

É bolinhas para dentro e nada mais

É

Um ano, uma data a registar: 27 de março de 2021, o dia em que, em Belgrado, roubaram – é o termo adequado – um golo limpo e de execução técnica superior a Cristiano Ronaldo. Teria sido a vitória sobre a Sérvia e não estaríamos hoje a jogar este ‘play-off’. Mas estamos, é a vida.

Escrevi aqui, na semana passada e sobre o Portugal-Turquia, que só podíamos fazer uma coisa: rezar. Afinal, laborei num erro ao admitir que Fernando Santos não trataria do assunto com a devida competência. Peço desculpa.

É verdade que não veio das forças que regulam o Universo a atitude e o ritmo com que Seleção começou a partida e, chegados ao 2-0, todos julgámos que desta vez era canja: os jogadores haviam concretizado o objetivo e podiam gerir o esforço a pensar na final de terça-feira.

Que imprudentes fomos! Veio a segunda parte e apareceu Burak Yilmaz a fazer o 2-1, ao mesmo tempo que a equipa nacional quebrava de rendimento. E aos 84 minutos o desastre ficou à vista, com o penálti para os turcos e de novo com Yilmaz – nascido em 1985 como Cristiano e também com fama de infalível – pronto para empatar. A seguir, viria um penoso prolongamento, um esforço tremendo e dispensável. E uma incerteza canalha.

Foi a altura perfeita para pôr em ação o plano B do Engenheiro, com a chamada à ação de santos, santinhos, anjos, querubins e todo o seu arsenal disponível. E os reforços celestiais não nos falharam, pese a enormidade da tarefa: perturbar Burak Yilmaz, ídolo popular de Lille ao Bósforo e à fronteira leste da Turquia. Deu-se então o milagre, o capitão atirou a bola para fora – ou ‘alguém’ a desviou, vá lá saber-se.

Tratou-se de uma ‘convocatória’ tão grande de proteção divina que a carga dispensada às tropas de Fernando Santos sobrou do Dragão para Palermo, mais propriamente para a perna direita de Trajkovski, que aos 90’+2 fez o remate de uma vida e deu à ‘squadra azzurra’ o direito a férias em novembro.

Sobrou, todavia, um problema: não teremos mais munições se houver necessidade de ajuda especial, amanhã. Gastámos tudo, o choradinho não resulta sempre! Ou seja, o selecionador estará agora desarmado em matéria de recursos extraterrenos, e caberá aos jogadores, e apenas a eles, destroçar o ‘autocarro’ macedónio e assegurar a qualificação. E como não é de descartar a possibilidade de um Trajkovski qualquer dispor igualmente de apoios no Além, será preciso meter, pelo menos, duas ou três para dentro.

Aliás, depois de ter trabalhado muito para a equipa no jogo de quinta-feira, o cálculo das probabilidades sugere que possamos ter uma noite propícia para Cristiano Ronaldo voltar a marcar. Viram o golo meio coxo de Messi à Venezuela? Pode ser assim que não nos ralamos nada…

A propósito de cálculo de probabilidades, o último parágrafo vai para o primeiro comentador, e talvez o único, que teve a visão do escândalo de Palermo. Na CMTV, o jornalista Vítor Pinto, subdiretor de ‘Record’, anteviu a vitória da Macedónia sobre a Itália… Foi um golpe de sorte? Foi. Mas a capacidade para antecipar aquilo que parece quase impossível é um dom ao alcance de poucos. Nasce da experiência e do trabalhinho, essa é que é essa.

Outra vez segunda-feira, Record, 28mar22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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