Alexandre Pais

Só falta à Seleção ter uma equipa

S

A propósito da fantástica campanha dos sub-21, escrevi aqui há uma semana que a seleção A dispõe do melhor plantel do Mundo. Haverá outros igualmente valiosos, mas superiores ao nosso, duvido. Não contando com os 25 jogadores inicialmente convocados por Fernando Santos para os três confrontos de março, nem com Trincão, Rafael Leão e Pedro Gonçalves ou outro craque do grupo liderado por Rui Jorge, veja-se uma equipa C que Portugal poderia apresentar numa qualquer partida internacional, recorrendo apenas a nomes que já foram opções do engenheiro: José Sá; Nélson Semedo, Luís Neto, Rúben Semedo e Mário Rui; William Carvalho, André Gomes e João Mário; Podence, Gonçalo Paciência e Gonçalo Guedes. Como suplentes: Ricardo Pereira, Adrien, Miguel Veloso, Pizzi, Bruma, Gelson Martins, Éder, Paulinho, Rony Lopes… e mais dois ou três que de momento não me saltam à memória. São quase cinco dezenas de futebolistas, em boa parte espalhados pelos melhores clubes da Europa, capazes de responder de forma sólida em todas as posições e de servir qualquer sistema tático, que estão à disposição do selecionador para que se possa enfrentar com êxito a defesa do título de campeão europeu.

Pois, pois, mas a questão não está nas individualidades e sim no facto de não termos uma equipa, dirá o leitor. Na verdade, as exibições da Seleção há muito que não empolgam, sendo não menos verdade que, nas atuais circunstâncias, isso é impossível de vir a acontecer. “Andámos a jogar para o lado e para trás, uma equipa amorfa, sem intensidade…”, desabafava Fernando Santos após a vitória no Luxemburgo, reavivando os seus avisos anteriores. Eles alertavam para a necessidade de se reverem os calendários de modo a acabar com o excesso de jogos que obriga os protagonistas a um esforço inadequado e impede os treinadores – e por maioria de razões os selecionadores – de serem mais do que gestores da recuperação física e mental de remadores de galés submetidos a trabalhos forçados.

Não se trata de um fenómeno português. O Euro’2020 disputa-se no próximo verão, a Final Four da Liga das Nações será (?) em outubro, a pandemia agravou o problema da escassez de tempo para a afinação coletiva e para a preparação detalhada. Exemplos desse suicídio competitivo não faltam, nas seleções e nos clubes, desde a pobreza do futebol da Juventus, que também joga para o lado e para trás e já corre o risco de nem sequer se classificar para a Champions, à poderosa seleção alemã, que perde em casa com a Macedónia, 65.ª (!) posicionada do ranking da FIFA, passando pela goleada sofrida pelo Chelsea, em Stamford Bridge, aos pés de uma equipa – e de um enorme Matheus Pereira, torce a orelha, Sporting! – quase condenada à descida. Não há milagres: quando se abusa do corpinho, a “máquina” chateia-se e começa a pifar.

Nem de propósito: o último parágrafo vai para Diogo Jota, essa pérola que Atlético de Madrid e FC Porto desaproveitaram… A lesão que lhe partiu a época ao meio poupou-o à sobrecarga física e o resultado está à vista: em oito dias, três jogos e cinco golos, um tratado. Chapeau!

Outra vez segunda-feira, Record, 5abr21

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

Arquivo

Twitter

Etiquetas