Alexandre Pais

A contracrónica do clássico: e se estivesse Paixão no lugar de Ferreira?

A

Este era um daqueles confrontos em que eu tinha quase a certeza do empate. Convinha às duas equipas e refletiria o equilíbrio que existe hoje entre o futebol praticado por Benfica e FC Porto. E previa-se igualmente uma partida fria, calculista, com os adversários a temerem-se e a não se arriscarem em cavalarias altas. Mas eis-nos perante a beleza deste jogo que tantas vezes nos surpreende: quatro golos a abrir, em apenas 9 minutos, com 2-2 aos… 17. 

Um início fatal para cardíacos que não joguem à defesa e que sigam o exemplo do dr. Nélson Puga, aquele médico do FC Porto – que foi um excelente voleibolista e tem um penteado igual ao meu, dois bons motivos para merecer a minha simpatia – que está sempre em cima do acontecimento. Seja nos grandes abraços ao treinador a seguir aos golos – uma espécie de Paulinho do Dragão mas com diploma para exercer – seja a interceder por Vítor Pereira junto do quarto árbitro, como fez ontem quando o comandante técnico da companhia se mostrava uma pilha de nervos e o caldo se podia ter entornado.

Sim, é uma questão de coração, mas também é verdade que sou mais feliz sem surpresas, gosto das coisas previsíveis. Dou um exemplo: fui dos que escrevi que Godinho Lopes andava a perder tempo e a correr ainda mais riscos ao adiar a entrada em cena de Jesualdo Ferreira. A prova está à vista: dois jogos, duas vitórias e zero golos sofridos, e primeira vitória fora e primeira dupla de vitórias consecutivas ao cabo de muitos meses. 

Mas voltando ao clássico, a conclusão que se tira é que se Vítor Pereira já tivesse aprendido tudo com os doutores da bola – de José Mourinho a Jorge Jesus – metia a mãozinha à frente da boca antes de botar palavra e de despejar aqueles impropérios que o país todo ficou agora a saber que ele disse aos costumes e ao Maxi – Pereira como o Vítor e careca como o nosso doutor.

Passa-se com Jesualdo, com o dr. Nélson e com os Pereiras o contrário do que acontece com Bruno Paixão, um árbitro simpático, que considero sério mas que falha demasiado quando não há necessidade. E sofre de cartolinofobia atroz, aumentando, com os seus erros, a imprevisibilidade do futebol. Ontem, na Feira, deu mais um dos habituais shows de cartões, mais de dez, e deixou no marcador final a sua imagem de marca. Quando ele apita, nunca se sabe o que poderá acontecer. 

Desta vez, a fava calhou ao Belenenses, que aos 10 minutos já tinha dois jogadores amarelados, à meia hora não viu marcadas a seu favor duas faltas, no mesmo lance, para grande penalidade – as bolas foram desviadas claramente pelos braços – e ficou a jogar com 10 a partir dos 42 minutos, porque João Meira, que viu o cartão amarelo aos 3 minutos, num banal desentendimento com um adversário, levou o segundo por um simples lance de bola dividida. Inacreditável? Só para quem não conheça Bruno Paixão. 

E para que não se diga que só me viro para o lado que me convém, refiro também o duplo cartão amarelo exibido pelo árbitro, já perto do final do Feirense-Belenenses, quando um jogador da turma da casa, derrubado em falta, se limitou a erguer-se e a abrir os braços, virado para o adversário faltoso. Cartão para os dois por alma de quem? Só visto.

O que teria acontecido na Luz se, no lugar do pacato e salomónico major Ferreira, tivesse estado o duro e imprevisível Paixão? – algo que Vítor Pereira, não o irado de ontem mas o outro espertalhão, não consentiria. Teríamos tido, isso é certo, uma bátega de cartões e o Maxi a ir tomar duche mais cedo. Porquê? Ora, ora, ora, isso digo eu que quero acabar esta contracrónica a desconversar.

Contracrónica publicada na edição impressa de Record de 14 janeiro 2013

Este era um daqueles confrontos em que eu tinha quase a certeza do empate. Convinha às duas equipas e refletiria o equilíbrio que existe hoje entre o futebol praticado por Benfica e FC Porto. E previa-se igualmente uma partida fria, calculista, com os adversários a temerem-se e a não se arriscarem em cavalarias altas. Mas eis-nos perante a beleza deste jogo que tantas vezes nos surpreende: quatro golos a abrir, em apenas 9 minutos, com 2-2 aos… 17. 
Um início fatal para cardíacos que não joguem à defesa e que sigam o exemplo do dr. Nélson Puga, aquele médico do FC Porto – que foi um excelente voleibolista e tem um penteado igual ao meu, dois bons motivos para merecer a minha simpatia – que está sempre em cima do acontecimento. Seja nos grandes abraços ao treinador a seguir aos golos – uma espécie de Paulinho do Dragão mas com diploma para exercer – seja a interceder por Vítor Pereira junto do quarto árbitro, como fez ontem quando o comandante técnico da companhia se mostrava uma pilha de nervos e o caldo se podia ter entornado.
Sim, é uma questão de coração, mas também é verdade que sou mais feliz sem surpresas, gosto das coisas previsíveis. Dou um exemplo: fui dos que escrevi que Godinho Lopes andava a perder tempo e a correr ainda mais riscos ao adiar a entrada em cena de Jesualdo Ferreira. A prova está à vista: dois jogos, duas vitórias e zero golos sofridos, e primeira vitória fora e primeira dupla de vitórias consecutivas ao cabo de muitos meses. 
Mas voltando ao clássico, a conclusão que se tira é que se Vítor Pereira já tivesse aprendido tudo com os doutores da bola – de José Mourinho a Jorge Jesus – metia a mãozinha à frente da boca antes de botar palavra e de despejar aqueles impropérios que o país todo ficou agora a saber que ele disse aos costumes e ao Maxi – Pereira como o Vítor e careca como o nosso doutor.
Passa-se com Jesualdo, com o dr. Nélson e com os Pereiras o contrário do que acontece com Bruno Paixão, um árbitro simpático, que considero sério mas que falha demasiado quando não há necessidade. E sofre de cartolinofobia atroz, aumentando, com os seus erros, a imprevisibilidade do futebol. Ontem, na Feira, deu mais um dos habituais shows de cartões, mais de dez, e deixou no marcador final a sua imagem de marca. Quando ele apita, nunca se sabe o que poderá acontecer. 
Desta vez, a fava calhou ao Belenenses, que aos 10 minutos já tinha dois jogadores amarelados, à meia hora não viu marcadas a seu favor duas faltas, no mesmo lance, para grande penalidade – as bolas foram desviadas claramente pelos braços – e ficou a jogar com 10 a partir dos 42 minutos, porque João Meira, que viu o cartão amarelo aos 3 minutos, num banal desentendimento com um adversário, levou o segundo por um simples lance de bola dividida. Inacreditável? Só para quem não conheça Bruno Paixão. 
Epara que não se diga que só me viro para o lado que me convém, refiro também o duplo cartão amarelo exibido pelo árbitro, já perto do final do Feirense-Belenenses, quando um jogador da turma da casa, derrubado em falta, se limitou a erguer-se e a abrir os braços, virado para o adversário faltoso. Cartão para os dois por alma de quem? Só visto.
Oque teria acontecido na Luz se, no lugar do pacato e salomónico major Ferreira, tivesse estado o duro e imprevisível Paixão? – algo que Vítor Pereira, não o irado de ontem mas o outro espertalhão, não consentiria. Teríamos tido, isso é certo, uma bátega de cartões e o Maxi a ir tomar duche mais cedo. Porquê? Ora, ora, ora, isso digo eu que quero acabar esta contracrónica a desconversar.

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

Arquivo

Twitter

Etiquetas