De todas as profissões que admiro, há duas, a de professor e a de polícia, que me merecem particular apreço, talvez por me considerar incapaz de as desempenhar. Curiosamente, detestava-as antes de 1974 porque os seus agentes interpretavam, com frequência, casos de abuso de autoridade, e só tenho pena que não sejam as bestas desse tempo a responder por isso, ou seja, a suportar os maus tratos que...
Sábado: crónica em pedaços – 8
1. Creio que nunca vivi casos bizarros em férias, muito provavelmente porque gosto de me prevenir em terra e dou, assim, pouca margem para surpresas no mar. Fujo também de situações que se possam complicar e não tenho o mínimo espírito de aventura. Mas que o azar está atrás da porta está, e ainda há dias, em Madrid, passei um fim-de-semana que me deu que pensar: ia ver a estreia do Real na Liga e...
Crónicas da sábado: o muro de papel
Pedro Passos Coelho é um felizardo. Torna-nos a vida cada vez mais difícil, prosseguindo a política do seu antecessor, e dá-se ao luxo de ir de férias para a Manta Rota, onde não faltarão felizes convívios e alegres banhistas. José Sócrates também gozou dessa comovente informalidade e tomava café na pastelaria da Rua Braamcamp, ao lado da sua residência, em Lisboa, até começar a ser incomodado...
Crónicas da Sábado: cromo e castigo
A questão está no conceito, cromos não faltam. Porque generalizando a atribuição do diploma acabamos no Conquistador. Sim, aquela mania que D. Afonso Henriques tinha de se meter dentro de uma armadura… que saloio. Desde que me lembro que houve figuras desalinhadas em relação ao comum dos mortais. Na rádio, eram famosas as direcções de orquestra de Joly Braga Santos, enquanto ouvia música...
Sábado: crónica em pedaços – 7
1. MasterChef presta homenagem a um nome da cozinha portuguesa, Justa Nobre, que só a dimensão do País tem impedido de alcançar fama internacional. Comecei por ser cliente, quando era director da Élan, não andará muito longe de um quarto de século, do desaparecido Restaurante Nobre da Ajuda, onde a qualidade da comida e do serviço pediam meças, na área da capital, ao mítico Gambrinus ou ao Clube...
Crónicas da Sábado: perdeu-se uma estrela
Luís Pereira de Sousa integra as minhas memórias do Quelhas 2. Tenho bem presente o dia em que um colega dos serviços de Gravação da Emissora Nacional, que colaborava com o Rádio Clube de Moçambique, me explicou, no início da década de 70 – e com manifesta admiração – quem era o homem. Passei a acompanhar desde então a sua carreira e a desesperar-me, anos depois, com o demérito de programas que...
Crónicas da Sábado: vida de Isabel Wolmar dava um filme
No início de 1995, o então director de programas da RTP, Adriano Cerqueira, aconselhado por uma amiga comum, desafiou-me para o meu trabalho mais bem remunerado de sempre: o da autoria de A minha vida dava um filme, a transmitir no primeiro canal. O programa baseava-se em casos supostamente reais e supostamente contados pelos próprios intervenientes, e comentados depois por um médico ou por uma...
Sábado: crónica em pedaços – 6
1. Alegria dupla. Depois da incontornável especulação jornalística, Passos Coelho e Paulo Portas escolheram o seu governo, um razoável governo – pelo menos à partida e dadas as circunstâncias. Fizeram-no com uma discreção a que não estávamos habituados e reservaram-me, ainda por cima, duas alegrias: não concretizaram a ameaça do carnaval permanente que seria ter o professor Catroga nas Finanças e...
Crónicas da Sábado: deixem-me dormir
A burocracia ainda não mortalmente atingida pelos simplexes desta vida é talvez a maior responsável pelo nosso atraso. E não se encontra para isso outra desculpa que não seja a velha negligência nacional com as questões do tempo, esse bem cada vez mais precioso e cada vez mais desperdiçado. Tenho de novo de recuar na memória para procurar o primeiro sinal de desperdício que registei. Lembro-me de...
Crónicas da Sábado: os mestres da caça
Portugal é um país de perseguidores de fantasmas. Talvez por ser muito alto, para a minha geração, evidentemente, e ter um tom de voz um tanto agressivo, fui bastante cedo vítima dos mentecaptos que me consideravam como alguém com quem era preciso ter cuidado – pobre de mim. Os portugueses distinguem-se por uma característica que não pode ser dissociada da trágica situação económica e social em...