1. MasterChef presta homenagem a um nome da cozinha portuguesa, Justa Nobre, que só a dimensão do País tem impedido de alcançar fama internacional. Comecei por ser cliente, quando era director da Élan, não andará muito longe de um quarto de século, do desaparecido Restaurante Nobre da Ajuda, onde a qualidade da comida e do serviço pediam meças, na área da capital, ao mítico Gambrinus ou ao Clube dos Empresários, um must da época. E tenho pena que as voltas da vida tenham reduzido a visibilidade do Nobre a umas letras pequeninas por detrás do logo do Spazio Buondi, ao Campo Pequeno. O talento da Justa e do Nobre merecia ter, sobre a porta, a velha marca de sempre numa placa que se visse de toda a praça.
2. Basta reparar na imagem clean de Sócrates ou de Passos Coelho, um de estilo mais rebuscado e elitista, o outro numa linha menos afectada e mais popular, para se compreender que Francisco Assis terá muita dificuldade em vencer uma eleição. Mas foi outra vez notável no modo como enfrentou um adversário que se sabia vencedor, brandindo apenas a defesa dos valores em que acredita. Enquanto se via Seguro, de Norte a Sul, a trocar abraços e beijos com os camaradas-eleitores, Assis esgrimia ideias com os moinhos de vento. O resultado mais não foi que o remake de um filme já visto.
3. No caso dos assassínios em massa de Oslo, os jornalistas misturaram de novo a facilidade do tabloidismo com os pruridos da referência. Mal se soube dos massacres, a Al-Qaeda passou a responsável pelos atentados e assim ficámos durante horas, até ser detido o verdadeiro criminoso. Depois, o autor confesso foi transformado em suspeito, ou prncipal suspeito, condição que manteve nos dias seguintes, apesar de só ter faltado o directo da tragédia e de não existir a mínima hipótese de estar inocente. Enfim, é o resultado do Google, mas como jornalista vos confidencio o que de facto me preocupa: que na zona mais tranquila do Mundo, a qualquer hora e na mais pacífica das situações possa aparecer alguém a semear a morte. A Al-Qaeda da porta ao lado é que me mete medo.
4. O ministro das Finanças diz que o sector financeiro português está sólido, os bancos queixam-se das dívidas do Estado, as agências de rating perseguem-nos com a ferocidade de um rottweiler… Ninguém consegue dar garantias do que quer que seja num país em que os verdadeiros tempos difíceis só chegarão após as férias, com os transportes mais caros, os livros da escola por comprar, os combustíveis em alta, os juros a subir, o imposto excepcional a aproximar-se, as taxas do IVA quase a aumentar, o desemprego a crescer sem parar, o desânimo instalado. Apetece-me emigrar mas não sei para onde.
Observador, crónica publicada na edição impressa da Sábado de 28 julho 2011