Alexandre Pais

Vêm aí greves para o Guinness

V

Neste verão, sobram temas de alternativa ao da guerra na Ucrânia: entre o caos hospitalar, os incêndios, a seca e as subidas dos combustíveis o diabo escolherá. A verdade é que se os fogos, a falta de água e o preço do crude resultam de fenómenos que não controlamos, a situação nos hospitais podia estar resolvida há décadas se a saúde em Portugal não estivesse refém dos lóbis corporativos e da tibieza dos que não ousam enfrentá-los. O problema, que é real, começou na ‘guerra’ dos médicos e seguirá com enfermeiros, técnicos e auxiliares, criando uma bola de neve que alastrará a outras classes profissionais. Ao colo da inflação, vêm aí greves para o Guinness.

Creio que merecemos a nossa sorte. Afinal, o que esperar de um país que, cinco anos após a tragédia de Pedrógão, tem matagais a crescer desordenadamente ao redor dos ‘esqueletos’ das árvores ardidas, em terrenos que ainda ninguém limpou? Ou que leva a juízo – como responsável por um inferno que espalhou centenas de focos de incêndio pelo território – o comandante dos bombeiros a quem caiu a bomba no prato?

O caos nos hospitais só afeta os que precisam deles. Para os ‘decisores’, trata-se apenas de uma maçada que um dia, quem sabe, alguém resolverá.

Antena paranoica, Correio da Manhã, 25jun22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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