Com a devida vénia, transcrevo um ‘post’ de José Paulo Fafe, no Facebook: “Então é assim: até aos 35 minutos do jogo, Fernando Santos era um génio. Quatro minutos depois, passou a ser ‘um medíocre’. Depois do intervalo, aos 51, o ‘engenheiro do penta’ ganhou o epíteto de ‘besta’. Agora, aos 60, ‘este gajo nem para o Cascalheira serve’. É Portugal no seu melhor.”
As barbaridades que se têm lido e ouvido sobre os ‘erros’ do selecionador – incluindo as dos ‘haters’ das redes sociais – mereciam uma avaliação psiquiátrica com internamentos imediatos. Porque, afinal, o que está em causa? A ‘chapa 4’ que nos aplicou a Alemanha, simplesmente. Fernando Santos responde por isso, é verdade, mas nada mais. Pode sair goleado de todos os jogos até ao final da carreira que nem isso apagará o mérito do profissional e a qualidade da pessoa – e muito menos a admiração e o reconhecimento dos portugueses pelo que realizou.
Aliás, o engenheiro escolheu bem o onze inicial para o embate de Munique: a equipa, lógica, que começara a partida com a Hungria. Só que foi traído pelas circunstâncias. Danilo tem nesta altura da época a velocidade do caracol, e William, ao contrário, acusa a falta de ritmo que só desafios consecutivos permitem encontrar. Bernardo Silva, gerido com pinças por Guardiola ao longo da temporada, não dispõe hoje de capacidade para poder recuar e logo estar lá na frente, e Bruno Fernandes, então, é uma sombra do que se conhece. A explicação não é difícil: sabe o leitor quantos jogos já leva nas perninhas em dez meses? Nada menos de… 70!!! Pois é, a ‘máquina’ não é de ferro.
Claro que na hora da derrota sempre se fala de quem não esteve. Aqui ao lado, os espanhóis estão igualmente desesperados com o desempenho de La Roja. O conhecido jornalista Paco García Caridad não poupava Luis Henrique, no Twitter: “Fazes uma convocatória injusta. Atacas Ramos, defesa e líder, que melhora os companheiros e converte os penáltis. Pões Llorente a lateral. Não levas Navas ou Aspas. Nem Nacho. Azpilicueta fica no banco. Treinador ultrapassado”. E também por cá ‘Pacos’ não faltam… Porque não jogam Palhinha e Sérgio Oliveira? André Silva e Renato Sanches não deviam ser titulares? Rúben Neves pediu escusa? Por que se dispensa a velocidade de Guedes? Convocou-se Dalot em vez de Cédric porquê? E qual a razão de não se recuperar Cancelo para os ‘oitavos’?
E aqui chegamos a Nélson Semedo. Não para o crucificar porque com o duplo pivô, junto e a contemplar o jogo interior dos alemães, o seu raio de ação ficou demasiado amplo para que pudesse, sozinho, travar as descidas de Gosens. E isso viu-se logo no lance do golo anulado, pelo que Fernando Santos teve mais do que tempo para corrigir o desposicionamento e conter a avalancha assassina que se seguiu. Não o fez e aí, sim, falhou.
Nada disso interessa já. Agora, o que se espera do engenheiro é um golpe de asa na escolha do onze ideal para superarmos a França – seleção à qual não marcámos qualquer golo nos últimos dois confrontos (0-0 e 0-1). E passando aos ‘oitavos’, arrisca-se a voltar a ser reconhecido como um treinador bestial…
Outra vez segunda-feira, Record, 21jun21
