Alexandre Pais

Um tiro que me saiu pela culatra

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Gostava de conhecer os critérios pelos quais se rege um realizador quando mostra algumas imagens de agentes desportivos desavindos, durante ou no final de um jogo, e esconde outras não menos relevantes, nem menos lamentáveis. O que se passa num recinto desportivo, ou se exibe dentro dos limites do decoro ou se esconde quando esses limites são ultrapassados. O que não faz sentido é não haver critérios para o que pode ou não pode, ou deve ou não deve ser transmitido. Jorge Jesus, por exemplo, foi expulso no final da partida de Setúbal e o que lhe vimos fazer foi tão bom ou tão mau como o que fizeram outros intervenientes que não foram expulsos.
Foi para realçar a falta de imagens importantes e a transmissão de pormenores inócuos que coloquei no Twitter este pequeno filme, de 3 segundos (!), em que se vê uma criança a chorar e um adulto, que se julga ser o pai, a dar-lhe um tabefe, já após o final do desafio. Contra o que esperava, em cerca de 650 (!) partilhas, ninguém estranhou as omissões da realização e todos se concentraram na criança, mimoseando o agressor com qualificações de besta para cima, sem cuidar sequer de saber os motivos da desavença familiar. Sem deixar de lamentar o gesto, pergunto: e se o miúdo recusava ir-se embora ou se queria andar à pancada com outra criança? Pois… Só podemos ver a atitude do adulto e nada conhecemos das suas justificações. Confesso que acabei por ficar com pena do homem.
Quanto à realização, a intenção era boa, dar uma imagem do desespero dos adeptos do Sporting após uma derrota inesperada, embora pela cor das roupas dos protagonistas não pareça haver por ali muito sportinguismo… Mas se o choro parecia normal, a bofetada apanhou o realizador de surpresa. Ossos do ofício.

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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