Alexandre Pais

Só o caminho das pedras pode salvar o Sporting

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Nem que seja preciso percorrer “o caminho das pedras” – é o conselho sábio do antigo presidente do Sporting, José Roquete. O apelo à paciência, ou à falta dela, dos adeptos leoninos, por parte de um dos nomes históricos do clube – que sublinha ainda ser a turbulência “a pior coisa” que pode acontecer em Alvalade – cairá, desgraçadamente, em saco roto. Porque a recuperação da instituição só conseguiria fazer-se com uma liderança forte e esta não existirá sem os resultados positivos da principal equipa de futebol. Resultados esses difíceis de obter com um plantel desequilibrado que se estende pelo bom, o razoável e o medíocre, situação por sua vez impossível de reverter sem o forte investimento financeiro que o recente “delirium tremens” afastou – até de um futuro de médio prazo.
O Sporting tornou-se num saco de gatos de barões desavindos e de irmãos que se odeiam fortemente, onde o poder é exercido de forma quase envergonhada por um homem respeitável mas também um gestor impreparado e um mau comunicador – que tem de chamar a polícia para que os adeptos do seu próprio emblema o deixem sair do pavilhão e voltar para casa. Todo este castelo de cartas que se desmorona está agora nas mãos de um treinador simpático e competente, cuja falta de habilitação oficial para orientar a equipa do banco fez retornar a Alvalade a alegria dos cemitérios a que me referi aqui, após a contratação de Marcel Keizer.
Conseguirá Jorge Silas, entre o desastre de Alverca e a jornada europeia da próxima quinta-feira, fazer com que jogadores de topo, como Mathieu ou Acuña, recuperem o seu nível, e outros, menos dotados, possam transcender-se para ganhar ao Rosenborg? Ou será um provável novo insucesso o rastilho para mais desordem e maior desunião, rumo a um abismo do qual dificilmente o Sporting regressará? Além dos ninguéns que conhecemos, quem terá coragem para percorrer o caminho das pedras?
O Sintra Football, do terceiro escalão nacional – clube com 12 anos e ainda sem campo próprio – eliminou o Vitória de Guimarães da Taça de Portugal. Os idólatras de Ivo Vieira, mal refeitos do percalço, passam entre os pingos da chuva. Afinal, bater em Silas é menos doloroso e mais popular.
Madrid transformou-se num Gólgota. Colchoneros e madridistas abraçam-se na subida da colina. O Real prossegue na agonia pós-Cristiano e o Atlético tarda em cumprir a época que os milhões que investiu reclamam. E João Félix, em quebra de rendimento e agora com duas semanas de baixa, terá começado a compreender que não era aquele o clube adequado ao seu crescimento e plena afirmação. Terá?
Por falar em Cristiano: repleta de craques, que davam para constituir dois onzes de capacidade semelhante, esta Juventus joga poucochinho. Faltasse lá ele e seria a vulgaridade, apesar de tanta prima-dona. E a propósito da Juve: quando vi aquela fenomenal defesa de Buffon, aos 90+3, a evitar o empate em casa, frente ao Bolonha, compreendi as reservas de muitos dos nossos entendidos quando se pôs a hipótese de ele vir substituir Casillas, no FC Porto. Está, de facto, demasiado velho – e o golpe de rins, então, é zero.
O último parágrafo vai – com um chapeau! – para Gonçalo Paciência e Domingos Duarte, duas novas opções para a já gorda lista de Fernando Santos. Há engenheiros com sorte.
Outra vez segunda-feira, Record, 21out19 (versão integral)

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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