Alexandre Pais

Sem idade para ver pornografia

S

Que posso dizer hoje sobre o que sucedeu no sábado, no Jamor, que já não tenha sido dito por cá e pela comunicação social de todo o Mundo? Em boa verdade, pouco. Desde que se viu livre do almirante, a DGS aumentou o potencial para fazer asneiras e quanto à entidade comandada por Pedro Proença, vulgo ‘Liga de Clubes’, sabemos que esperar pelo pior é sempre a postura mais acertada. Ontem, saiu uma ‘participação disciplinar’, ou seja, coisa nenhuma, mas o blá-blá-blá do passa culpas irá perdurar e será divertido.

Divertido estive, aliás, com as eleições no PSD e com a final da Libertadores, pelo que o espetáculo pornográfico do Estádio Nacional quase me passou ao lado – nem tenho já idade para isso. Entre canais, retive apenas uma imagem de Jorge Jesus esparramado no banco, entediado, e outra de Rui Pedro Soares, lavado em lágrimas, o que me comoveu bastante. A vida é muito dura com algumas pessoas, caramba.

Mas quando revejo Jesus, recordo invariavelmente a época em que o vi jogar no Restelo e depois as duas temporadas em que foi treinador do Belenenses: até estive na final da Taça de Portugal em que perdemos com o Benfica. Também estive na que ganhámos ao Benfica, outra história.

Achei, por isso, de péssimo gosto a conferência de imprensa em que JJ lembrou, ao falar da partida com a equipa da Codecity, as suas passagens pelo Belenenses, misturando alhos com bugalhos. Não havia necessidade de descer aos infernos. Não por acaso, o imbróglio tem sido alimentado por Proença e pela Liga, ao contrário do que fez a Federação e Fernando Gomes. Nem de propósito. Veja-se a coincidência: invocando ‘o princípio da precaução em casos que possam pôr em causa a saúde pública’, e face à complexa situação sanitária da SAD azul, a FPF adiou a sua partida de sub-23 com o Marítimo, marcada para a manhã de ontem. É a diferença entre um líder e um funcionário.

Já agora, uma palavra para saudar a coragem – sim, é preciso coragem para remar contra a maré dos interesses – dos comentadores Fernando Mendes, da CMTV, e Marco Caneira, da SIC Notícias, que não fugindo à polémica criada por Jesus ‘explicaram’ que o Benfica ia defrontar uma SAD que já nada tem a ver com o Belenenses e a sua história. Chapeau!

O último parágrafo vai para a proeza que Abel Ferreira repetiu ao leme do Palmeiras: a conquista da Libertadores. Há dias, Jorge Jesus lamentou o falhanço de Seferovic, que daria a segunda vitória consecutiva do Benfica sobre o Barcelona e que poria o treinador nos livros por esse motivo, se tivesse acontecido. Já Abel, ao ganhar de novo a final da maior competição da América do Sul, fez com que as coisas acontecessem mesmo. Mas como o Mundo é redondo, o técnico da turma paulista ajudou também, com a sua vitória, a escancarar a porta ao inevitável regresso de Jesus ao ‘Mengão’. Com o Brasileirão praticamente perdido, Renato Gaúcho falhou a Libertadores e tem os dias contados, é assim o futebol. E o Brasil.

Outra vez segunda-feira, Record, 29nov21

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

Arquivo

Twitter

Etiquetas