Alexandre Pais

Obrigado, Mário Soares

O
Segui com entusiasmo o percurso de Mário Soares, do exílio em S. Tomé, em 1968, até à derrota nas presidenciais de 2006, que constituiu mais um serviço ao País, pois a sua candidatura travou a provável vitória do oportunismo de Manuel Alegre. Curiosamente, o mesmo Manuel Alegre que impediria, em 2011, o eventual sucesso do aventureirismo de Fernando Nobre.
Na hora da despedida, Soares – que com 70% dos votos na reeleição de 1991, é ainda o Presidente mais popular de sempre – volta a dividir os portugueses. De um lado, estão aqueles que, como lembrou Freitas do Amaral, “sabem muito mas não sabem tudo” o que lhe devem. Do outro, os que recorrem ao ódio e insistem no tema da descolonização que Salazar não quis fazer quando podia negociar. E que Soares não tinha outro modo de levar a cabo, já que em 1974 a opinião pública não tolerava mais a guerra colonial e os soldados recusavam-se a combater – o MFA decretara o cessar-fogo em junho.
A História registará os méritos de Mário Soares e esquecerá os erros que impedem, na hora da partida, um consenso que na verdade nunca desejou. Mas eu estou-lhe grato. Pelo sonho e pelo combate. Pela democracia e pela Europa. Pelo exemplo do corajoso cara a cara com imigrantes hostis ao 25 de abril, que acompanhei, à saída do aeroporto, em São Paulo, Brasil, em 1976. E, até ao último dos dias, por essa esquina do tempo que ele dobrou na Fonte Luminosa (foto abaixo), com isso traçando o futuro do Portugal livre e democrático – e o meu.
Observador, Sábado, 10 JAN17
Nota 1 – Na edição em papel, trunquei por lapso a parte final do primeiro parágrafo, que terminava com o oportunismo de… Fernando Nobre, quando me queria referir a Manuel Alegre, como se encontra escrito acima. Aos leitores da Sábado impressa, as minhas desculpas.
Nota 2 – Já que me referi ao aventureirismo de Fernando Nobre, uma pessoa respeitável mas sem condições para ser Presidente da República, posso acrescentar que também devemos a Paulo Portas o facto de o CDS não ter apoiado uma segunda candidatura de Nobre, em 2011: dessa vez, a presidente da Assembleia da República´outra função para a qual não tinha perfil. Ainda por cima, isso privaria o País do contributo do excelente mandato de Assunção Esteves.
O grande comício da Alameda, em 1975, que travou a deriva antiparlamentar e salvou a revolução democrática de 1974
Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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