Alexandre Pais

O assalto à rádio oficial em 25 de novembro de 1975 (parte 2)

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Às 20h30 de 25 de Novembro de 1975, com as instalações do Quelhas da Emissora Nacional (EN) ocupadas pelo Copcon e pela Polícia Militar (PM), e a emissão a ser desviada para o Porto, o major João Figueiredo, presidente da direcção da EN (no seu depoimento escrito referido como PD) seguiu do edifício das Amoreiras – ocupado pouco depois pela PM – para o Palácio de Belém. Passo a citar passagens do que declarou.
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“Cerca das 20h40 (…) dirigiu-se o PD para a Presidência da República donde saiu em chaimite, juntamente com elementos da RTP, para Monsanto” – onde os Comandos haviam assumido o controlo dos emissores – “a fim de estudar a eventual instalação de estúdios. Voltou à Presidência onde permaneceu até cerca das 6h00. (…) No momento em que se tratava do discurso do Presidente da República, com o Quelhas ocupado, tentou o PD estabelecer comunicação com a Central a fim de conseguir linha. Atendeu o telefone Afonso Henriques, da Central, que depois de ouvir o PD dizer que precisava de linha, respondeu: ‘Um momento, que vou chamar o major Barroso’. Passados segundos veio o major Barroso que disse: ‘Daqui fala o Major Barroso’. Ao que o PD passou o telefone ao Conselheiro da Revolução, capitão Sousa e Castro, que deu ordem, em nome do Presidente da República, para que o major Barroso providenciasse a ligação. O PD não ouviu a resposta do major, tendo o conselheiro Sousa e Castro ‘começado aos berros’, dizendo que providenciasse e que não estava a brincar, tendo a chamada sido cortada. (…) O locutor-redactor Henrique Garcia presenciou este acontecimento, tendo a determinada altura sugerido que o som da TV podia ser transferido para a EN no Porto. O PD declarou ainda que o Afonso Henriques da Central ligou para o Porto dizendo que o tenente Almeida” – Director Técnico da EN – “já não era director. (…) O PD informou ainda que cerca das 21h30, já na Presidência da República, viu o general Otelo. Estranhando a presença dele, uma vez que às 21h00 um homem intitulando-se do Copcon fazia na EN o ponto da situação, solicitou ao general Otelo que esclarecesse a situação, falando com os Serviços de Noticiários da EN, para o que o PD forneceu o número de telefone directo. O general Otelo falou com um funcionário da EN dizendo-lhe que ‘parecia que um oficial do Copcon estava na EN a fazer o ponto da situação’. O PD respondeu que ‘não parecia, era mesmo’. O general Otelo desligou, dizendo que estava só a fazer o ponto da situação”.

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João Figueiredo (à direita) com o escriba, num acontecimento social, em 1983
E para terminar: um abraço ao João Figueiredo, que em 40 anos já passou por nós outra vida.
Parece que foi ontem, Sábado, 26NOV15

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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