Esta semana, uma licenciada em comunicação social pediu-me que respondesse a uma série de perguntas, que a ajudariam na sua tese de mestrado, sobre a “pouca importância” atribuída pela imprensa desportiva às modalidades, em comparação com o que acontece com o futebol. Deram-me conta, igualmente, do protesto de um leitor pela ausência de noticiário sobre pesca desportiva e de um email de reclamação por termos considerado que uma corrida de trail era uma prova de orientação… Enfim, protesta-se pelo que nos apetece – e ainda bem. E aproveitemos, antes que o ministro Vítor Gaspar se lembre de taxar também o direito à indignação que Mário Soares transformou num instrumento democrático gratuito.
Se pegarmos nos quatro diários espanhóis, todos a produzir, sempre que possível, edições de 40 páginas, verificaremos que o espaço dedicado às modalidades não é superior ao dos jornais portugueses. E se pontualmente alargam esse destaque é porque têm, nas mais diversas modalidades – ténis, ciclismo, basquetebol, desportos motorizados, etc –, campeões, protagonistas, equipas vencedoras.
Mas hoje, após o fecho do mercado futebolístico e da “obrigatoriedade” da goleada da Seleção em Chipre, não me desculparia se não dedicasse estas linhas a um herói improvável: Marco Fortes. Não que o nosso recordista do peso tenha conquistado qualquer medalha no Mundial de atletismo, mas porque interpretou um duro e quase inacreditável regresso dos infernos. Feito em picado há três anos, depois do insucesso nos Jogos Olímpicos, ridicularizado por tudo e todos – e muito por se ter posto a jeito com a história da “caminha”, é verdade –, só uma mentalidade muito forte, fortíssima, poderia evitar que não desistisse e alcançasse agora este 6.º lugar mundial. Um lugar que vale por uma medalha e que é um feito de campeão.
Marco Fortes merece hoje a admiração do país que o desprezou. Não é para todos.
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 3 setembro 2011