Milos Raonic, nascido há 25 anos no Montenegro e canadiano por opção, é um dos mais aborrecidos tenistas do circuito mundial. Apesar das excepcionais condições físicas – tem 1 metro e 96 – nunca ganhou um torneio do Grand Slam ou disputou sequer uma final, mas chegou há dias às meias-finais do Open da Austrália graças a um trunfo irritante: um serviço a 230 km/h que lhe dá mais de 20 ases por jogo, o que constituiria um avanço insuperável caso o seu talento para o ténis fosse maior. Apesar disso, jamais se ouviu um adversário – e todos lhe ficam aquém na capacidade de servir – queixar-se da desvantagem. Joga-se com o que se tem.
Recordo o gigante Raonic quando ouço os opositores de Marcelo Rebelo de Sousa repetirem, após o banho eleitoral de 24 de Janeiro, a mesma argumentação desculpabilizante utilizada antes da votação: ele andou décadas a promover a sua imagem na televisão e foi por isso que ganhou.
E depois? Não é o que acontece em tudo na vida? Em qualquer concurso, para um emprego ou de simples divertimento – na TV ou num trivial com os amigos – não são os mais completos que vencem? Não é só o serviço de Raonic que recordo, é também o drama dos burros que olham para os inteligentes e se desculpam com um pudera, eles andaram na escola! E continuam burros.
Observador, Sábado, 4FEV16
Marcelo, Raonic e as desculpas de burro
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