Alexandre Pais

Hoje é Sábado: Um amigo no telhado

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Em 1972, o Zé Neves de Sousa abriu-me a porta dos jornais

De 1964 a 1977: eis
os post-its de 13 anos
loucos… e de um louco
à solta, valha a verdade

A minha vida em post-it? Interessaria a alguém? E seria possível preservar a imagem do artista? Bem, fiquemos antes pelo memorando das principais peripécias dos anos loucos… e com um louco à solta, valha a verdade.
Agosto de 1964: escrevi o meu primeiro texto, publicado no Mundo Desportivo, sobre os campeonatos da FISEC, em que participei como atleta.
Setembro de 1964: fui admitido como operador radiotécnico estagiário, na Emissora Nacional (EN), com o salário ilíquido de 1.750 escudos.
Janeiro de 1967: pedi transferência para os serviços de Gravação e passei a trabalhar no apoio à Informação.
Janeiro de 1972: entrei para o Diário de Lisboa (DL), para a secção Sociedade.
Junho de 1972: fui despedido do DL pelo chefe de redacção, Armindo Blanco.
Julho de 1972: passei a trabalhar com Luís de Sttau Monteiro, no suplemento A Mosca, do DL.
Setembro de 1972: voltei à redacção do DL, para a secção Desporto, pela mão do jornalista José Neves de Sousa.
Outubro de 1972: no dia em que a PIDE matou Ribeiro Santos, ajudei dois alunos da vizinha Faculdade de Economia a saltarem do telhado e a saírem pela porta da EN. Um deles colou-se a mim para não se ver que tinha a camisa rasgada e ia descalço.
Março de 1973: deixei o Desporto, no DL, para coordenar a secção Cultura e Espectáculos.
Abril de 1974: passei dias na rua ao serviço do DL e quando voltei à Emissora os militares meteram-me no departamento de Noticiários, que há dois anos me vinha recusando a transferência.
Maio de 1974: por voto secreto, fui eleito pelos trabalhadores da EN para a comissão de saneamento e reclassificação.
Junho de 1974: fui nomeado por Jaime Gama para chefe de redação do Jornal da Tarde da Emissora.
Setembro de 1974: por decisão própria, tornei-me no primeiro jornalista da estação oficial a ler aos microfones as notícias que escrevia.
Abril de 1975: deixei o Diário de Lisboa, com mais meia dúzia de jornalistas não afectos ao partido largamente maioritário na redação.
Maio de 1975: admitido por Artur Portela Filho, passei a integrar o corpo redatorial do vespertino Jornal Novo, na secção de Política.
Novembro de 1975: com João Figueiredo, Igrejas Caeiro, Estrela Serrano e muitos outros ajudei a impedir o controlo da EN no golpe de 25, transferindo a informação e a programação de Lisboa para os estúdios livres do Porto.
Janeiro de 1977: os trabalhadores da RDP (ex-EN) elegeram-me, com 622 votos, contra 617, e 483, das duas listas opositoras, para a Assembleia da Rádio.
Março de 1977: para levar à demissão José Gabriel Viegas, diretor de informação nomeado por Manuel Alegre, demiti-me de chefe de redação da RDP e arrastei-o comigo.
E agora, que isto estava a aquecer, acabaram-se os post-its. Sorte sua, leitor.
Observador, crónica publicada na edição impressa da Sábado de 20 maio 2010
 

Por Alexandre Pais
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