Alexandre Pais

Fernando e a Seleção

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A controvérsia vem de 1960, quando o central brasileiro Lúcio e o médio sul-africano David Julius (depois Júlio), do Sporting, se naturalizaram e foram chamados à seleção de Portugal. Prossegue hoje a estéril polémica, com a eventualidade do recurso a Fernando, trinco do FC Porto. Também brasileiro – como Celso, Deco, Pepe e Liedson, os senhores que se seguiram – o portista irá beneficiar do estatuto de dupla-nacionalidade e com isso poderá ser uma opção para o Mundial.
De um lado da trincheira, os conhecidos “patriotas”, que exigem o produto nacional “à outrance”, ou seja, desprezando as consequências. Na barricada oposta, os habituais “vende pátrias”, sempre dispostos a aceitar tudo. Não precisamos de tomar partido pelo fundamentalismo de uns ou de outros.
A Seleção não é menos portuguesa se entre 23 escolhidos houver um ou dois jogadores oriundos de país estrangeiro. Dispomos, na história do nosso futebol, e para além dos naturalizados que referi, de tantos internacionais nascidos fora do território que seria uma estupidez defender agora a tese que contrariaria o que é uma verdadeira cultura. E se Lúcio, Celso ou mesmo Liedson não foram determinantes para o sucesso da equipa nacional, já sem Deco e sem Pepe não teríamos os êxitos que alcançámos. A Seleção vive até na saudade daquele “10” magnífico que fazia as transições para a frente, driblando os adversários, e não para os lados, evitando-os. Quanto a Pepe, não sei o que nos aconteceria se o dispensássemos para dar o seu lugar, demagogicamente, aos “jovens” e aos “portugueses”.
Nada de exageros. Convocar naturalizados é um ato que obriga a usar pinças. Se o jogador em causa tiver talento, se tiver carácter, se ocupar uma posição em que possamos estar mais fragilizados não deve ser chamado em nome de quê? Vamos aos mundiais e aos europeus para competir ou só para participar? Se os resultados não contassem, aí sim, qualquer um serviria. O caso de Fernando é, assim, simples: se quiser e estiver disponível, basta que Paulo Bento o convoque, ou não o convoque, como entender que melhor serve os interesses da Seleção.
Canto direto, Record, 30NOV13

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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