Alexandre Pais

Federer e Nadal voltaram a ser os donos do ténis

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São 17 títulos do Grand Slam, 11 dos quais em Roland Garros – sete na última década – a juntar a quatro taças Davis, a 32 torneios Masters 1000, às medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 2008 e 2016, a 100 milhões de dólares de “prize money” e por aí fora: eis o extraordinário palmarés de Rafael Nadal, após ter vencido ontem, em Paris, um troféu que lhe permite manter-se como n.º 1 do ranking ATP e confirmar a sua condição de melhor tenista em terra batida da história. Aos 32 anos, o balear pode apresentar ainda um número como mascote, o 83, que nos diz, em simultâneo, os títulos conquistados na sua carreira e a percentagem de vitórias obtidas desde que se tornou profissional, em 2003. E a 2 de julho próximo, 15 anos depois, Rafa voltará a Wimbledon, desta vez para tentar colecionar o 18.º torneio do Grand Slam ou, pelo menos, evitar que Roger Federer, o seu maior rival, alcance o 21.º título e lhe arrebate de novo – quase aos 37 anos! – a liderança mundial.
A história desta rivalidade vem de longe, de 2006, quando Nadal venceu Federer na final de Roland Garros e logo a seguir perdeu a de Wimbledon para o suíço, situação que se repetiria em 2007. Mas o mais curioso é o regresso do inferno das lesões que ambos empreenderam quando a maior parte dos admiradores já havia interiorizado o fim de uma era. Roger “apagou-se” em 2013 e até 2016 não ganhou nenhum título do Grand Slam – ainda jogou três finais mas perdeu-as para Novak Djokovic. Rafa “foi-se abaixo” em Wimbledon, em 2014, e igualmente até fins de 2016 alternou problemas físicos com uma quebra de forma que parecia definitiva.
Djokovic, Andy Murray e até Stan Wawrinka dominaram então o ténis mundial, com o sérvio a atingir picos de rendimento extraordinários, e os consequentes resultados desportivos e financeiros – o seu “prize money” de 2015, superior a 21 milhões de dólares, é de longe o maior de sempre obtido num único ano. Mas o entusiasmo dos novos deuses do ténis foi tanto que não tiveram em conta o exemplo do declínio ocasional dos velhos rivais, que haviam ultrapassado os limites que o corpo impõe aos humanos. E enquanto Rafa e Roger regressavam ao “mundo dos vivos”, Novak, Andy e Stan, com as “máquinas” a darem de si, eram forçados a parar e fazer “reset”. E hoje, o escocês tarda em reaparecer, o suíço é apenas uma sombra e só Djokovic começa a parecer-se com aquilo que foi.
A realidade do último ano e meio está à vista: dos seis torneios do Grand Slam já disputados, três foram para Federer e os outros três para Nadal, com os dois a recuperarem a liderança do ranking mundial. Além da capacidade competitiva, só uma força mental descomunal e uma tenacidade de ferro permitiram que as duas lendas do ténis despertassem do sono dos justos. Agora, concentrado no Mundial de futebol, mal posso esperar por Wimbledon, embora saiba, no que a Roger diz respeito, que a Mercedes Cup que hoje se inicia em Estugarda é muito importante para se perceber se a aventura da velha guarda continua. Afinal, nada é eterno.
O último parágrafo vai hoje para assinalar o estratosférico golo de Neymar em Viena. Com ele, terá ficado mais perto do Bernabéu – e Bale e Cristiano mais longe, que alguém vai ter de pagar a conta. Se pensasse bem nos problemas que “Ney” irá criar em Madrid, Florentino Pérez ficava quietinho. Estou a ver que o Barcelona vai ser campeão por uns bons anos.
Outra vez segunda-feira, Record, 11JUN18

Por Alexandre Pais
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