Élan, uma pedrada no charco de há 30 anos

Em janeiro de 1987, a CEIG, uma cooperativa gráfica e editorial ligada ao Partido Socialista – e candidata, sem êxito, à TV privada que surgiria anos depois – lançou a Élan. Tratava-se de uma revista mensal que expunha, com algum pudor inicial, corpos femininos parcialmente nus, e que foi por isso apelidada de Playboy dos socialistas, embora do seu conteúdo fizessem também parte artigos de opinião, contos, entrevistas, reportagens e temas de moda, desporto, viagens e artes.
O motor da iniciativa foi o já desaparecido João Tito de Morais, que liderava a CEIG e que chamou ao projeto dois nomes da cooperativa, Francisco Calheiros e José Lobato, bem como os homens-fortes do Correio da Manhã – já então na rota do sucesso – Vítor Direito e Carlos Barbosa, o administrador da distribuidora VASP, Luís Penha e Costa, e este escriba, que viria a ser o diretor.
Começámos com edições acima de 20 mil exemplares de vendas, resultados bons para uma época em que os temas relacionados com sexo ainda eram tabu e sobravam dificuldades à implantação de uma publicação que se adiantara no tempo. Essas dificuldades trouxeram a desarmonia: Direito, Barbosa e Costa abandonaram a sociedade e o entusiasmo diminuiu. O título durou até ao verão de 1990, mas a partir do segundo ano perdeu-se o élan e a revista vendia cerca de 10 mil exemplares quando encerrou.

Fui o único sócio que ganhou. Sem esses quatro anos de angústia na gestão e uma dura aprendizagem editorial, a minha vida não teria sido o que foi. E também por isso, daqui me curvo perante a memória dos que já partiram: Francisco Xis Calheiros – pai de Francisco Titas Calheiros, atual presidente da Confederação do Turismo – João Tito de Morais e Vítor Direito.
Parece que foi ontem, Sábado, 25JAN17