O magistrado do MP que investigou as mortes na praia do Meco, onde seis jovens foram tragados pelo mar em dezembro de 2013, processou as famílias das vítimas por difamação. O procurador terá sido acusado de ter mentido no despacho e de querer beneficiar a universidade em que estudavam as vítimas, por ter um filho a frequentar o mesmo estabelecimento de ensino.
Parece a queixa um ato de chocante insensibilidade? Sem dúvida que sim, embora seja necessário impedir que a não menos chocante vaga de calúnias e ataques ao caráter, que alaga impunemente as redes sociais, invada a área da justiça e enxovalhe os seus agentes.
Mas o queixoso devia pensar também nas condições de extremo sofrimento em que famílias prostradas, e aconselhadas sabe Deus como, procuraram desesperadamente explicações e culpados para as suas perdas – sem que houvesse explicações e culpados para lhes dar. E devia a seguir o sr. procurador interrogar-se sobre o que é mais relevante: a ofensa que lhe terão feito ou a marca gravada a fogo para o resto da vida nos corações daqueles pais?
Obtida a óbvia resposta, bastaria um pedido de desculpas e o arquivamento do processo. Claro que para isso teria de haver grandeza. De ambas as partes.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 28JAN17
Pais desesperados e procurador ofendido
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