Alexandre Pais

E de súbito: Civilização, 2 – Barbárie, 0

E

Christian Eriksen e o seu colapso de Copenhaga, que todos acompanhámos com horror, recordaram-nos, uma vez mais, como a vida é frágil e como, de repente, tudo acaba. Uma criança de três anos e outra de seis meses correram o risco de não verem mais o pai voltar para casa… Uma lição para quem passa o tempo a inventar dramas, não desfrutando daquilo que na verdade é importante!

Não pertencem a essa falange de tontos os jogadores da Finlândia, que no regresso dos dinamarqueses ao relvado, a fim de se retomar a partida, os aplaudiram de forma espontânea. Tal gesto de nobreza só não envergonhou os selvagens portugueses, especializados em espalhar o ódio e a violência, porque a vergonha é um sentimento que desconhecem. Mas também os companheiros de Eriksen – a começar pelo capitão Kjaer, que o terá salvo ao soltar-lhe a língua e ao virar de lado o corpo – merecem nota alta pelo modo concertado como, no meio do desespero, cerraram fileiras em torno do amigo tombado, travando a gula das câmaras de televisão, ávidas de captar o que poderia ser a imagem da morte. Duas derrotas para a barbárie no Parken Stadium!

Cristiano não é favorito para máximo goleador do Europeu. Surge apenas em quarto lugar no conjunto das previsões das casas de apostas, atrás de Kane, Lukaku – que já disse ao que ia – e Mbappé, e à frente de Benzema. Tendo de defrontar Alemanha e França, CR7 teria de começar por marcar dois ou três golos à Hungria para dar cabo do juízo aos apostadores. Trata-se, obviamente, de uma missão não impossível mas hercúlea, tanto mais que os húngaros jogam em casa e o estádio vai juntar 67 mil espectadores – sim, para o PM magiar, Viktor Orbán, a covid é uma brincadeira – a esmagadora maioria composta por furiosos dramáticos, prontos a urrar a plenos pulmões. O problema resolvia-se com uma entrada de rompante da Seleção e uma vantagem rápida, algo que, a acontecer, até a nós deixaria surpreendidos. Sim porque, mentalmente, estamos preparados, preparadíssimos, para sofrer do princípio ao fim do confronto – é a marca da casa.

O tempo passa e as oportunidades para os tenistas da ‘next gen’ substituírem o ‘Big Three’ vão-se esfumando. Dominic Thiem, de 27 anos, o mais velho, chegou a quatro finais do Grand Slam e só ganhou uma. Medvedev alcançou duas e perdeu-as. Zverev jogou uma e baqueou. Rublev e Berrettini aguardam ainda oportunidade para se estrearem numa final, ao contrário de Tsitsipras, de 22 anos, o mais novo do grupo, que ontem foi derrotado por Djokovic, em Roland Garros, depois de ter liderado por dois ‘sets’ a zero. Ou seja, são fantásticos mas ou comem muita sopinha e depressa ou terá de ser uma nova ‘next gen’, que aliás já desponta, a fazer o trabalho de mandar o reumático para casa.

O último parágrafo vai para um homem admirado por todos e que nos deixou sem um adeus. Não é verdade que só morram os bons, mas ao ver partir um ser humano da qualidade de Neno sempre pensamos como o Mundo seria um lugar bem melhor se as pessoas despojadas, simpáticas, divertidas, disponíveis e amigas, como ele, pudessem permanecer. Desgraçadamente, só podem na nossa memória.

Outra vez segunda-feira, Record, 14jun21

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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