Alexandre Pais

Carvalhal já não rima com Carnaval

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Solitário, encaminhou-se para o banco com alguma angústia estampada no rosto. Não teve, talvez, a receção que queria e só quando, na plateia, um pequeno grupo de adeptos do Sporting o aplaudiu, pôde respirar de alívio. Acenou, então, com um sorriso – e sentou-se. Carlos Carvalhal regressava a casa pela mesma porta pequena que o libertou um dia da gaiola onde não era feliz. Estaria longe de pensar que voltaria a sair de Alvalade, naquele sábado que o acolheu secamente, pela porta grande de um triunfo que os apaniguados leoninos não esquecerão tão cedo.
Há uma semana, ao fazer as minhas previsões para o TotoRecord, tive a sensação de que o Rio Ave não sairia derrotado de Lisboa – inclinava-me para o empate. Mas acabei por cair num 2-1, politicamente correto, como se com esta idade ainda tivesse satisfações a dar…
Essa intuição inicial não era um simples “flash”. Primeiro porque já tinha visto jogar o Rio Ave, reparado na excelente condição e identidade da equipa, com o dedo visível do seu líder, e tido na devida conta o enviado especial de Carlos Queiroz, o raio de um iraniano letal para defesas com sinais de reumático. Depois porque calculava que Carvalhal só se fosse burro é que seria o mesmo treinador que passou por Alvalade em 2009-10. A escola inglesa, que frequentou com melhor aproveitamento do que se possa pensar – e sempre com modestos recursos – teria forçosamente de deixar a sua marca. E aos 53 anos, Carlos Carvalhal está no tempo perfeito para conseguir o que há muito merece.
O Rio Ave ganhou em Alvalade por ter beneficiado de três penáltis? Certo. E é verdade que no lance do segundo a apontada falta de Coates não é clara e se aceitava outra decisão das sumidades da Cidade do Futebol? Responderei que sim. O problema para o Sporting é que os vila-condenses jogaram mais e justificaram a vitória. E nos longos períodos da segunda parte em que o Rio Ave dominou o jogo, os adeptos da casa pressentiram o perigo e fizeram sentir à equipa o seu descontentamento. Só que o pano é curto e não há milagres…
Decorreram quase dez anos sobre uma manchete do Record – de que me viria a arrepender, sem que isso alterasse o erro – que deixava Carlos Carvalhal, após sete jogos dos leões sem vencer, envolvido em caricatura de mau gosto: “É Carvalhal ninguém leva a mal”. Pois foi precisamente contra o antigo clube e no mesmo estádio onde tanto sofreu que o técnico fez agora demonstração prática de uma invejável sabedoria futebolística e de uma capacidade imensa como condutor de homens. Ele recebeu o Record de Ouro e há muito que fizemos as pazes, pelo que não preciso de redenção. E sinto-me genuinamente feliz pelo momento que o Carlos está a viver. Afinal, o Carnaval passou e Carvalhal podia bem, como se vê, ser hoje o treinador do Sporting. Chapeau!
Outra vez segunda-feira, Record, 2set19

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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