Alexandre Pais

Partiu um gigante

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Sempre que morre um ator de méritos firmados não é só o espetáculo que fica mais pobre, mas um pedaço da vida daqueles que seguem e se emocionam com a representação, que desaparece também. Isso sente-se ainda mais quando deixa o mundo dos vivos um monstro dos palcos – que a televisão popularizou – como Camilo de Oliveira.
Por seis décadas – já venho de longe – acompanhei a sua carreira. Em 1956 ou 1957, um dos diretos iniciais da RTP era o “Café Concerto”, em que o Camilo fazia umas rábulas, entre músicas, no papel de um criado de mesa surdo, que punha um funil no ouvido e só dizia disparates. O reconhecimento do grande público foi rápido e Camilo saiu do círculo restrito do Parque Mayer – restrito mas com vários teatros cheios… – onde era primeiríssima figura e pago como tal. Até “Camilo, o Presidente”, de 2010, na SIC, foi um imparável desfile de êxitos.
Partiu agora o Camilo, que teria gostado de saber da ausência na despedida de alguns biltres que lhe devem as suas carreirinhas e se fartaria de rir com a indiferença dos faróis da “intelligentsia”, que o ignoravam por não fazer pepineiras para salas vazias. Nada mais divertido para um gigante do que o silêncio dos anões para que os levem a sério.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 9JUL16

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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