De repente, tudo mudou. Sérgio Conceição já não tem a cabeça em risco e Bruno Lage vê chegar ao fim o seu estado de graça. Acabaram os tempos felizes que davam até para o treinador do Benfica dizer que “o FC Porto foi a equipa que mais pontos ganhou para Portugal”, nas competições europeias. Trata-se de uma verdade que se pode recordar quando ganhamos e a nossa gente se sente eufórica, mas que se pagam caro no dia em que os insucessos voltam a instalar a dúvida no coração dos adeptos.
Dupla de betão. Após o clássico, Lage será ainda particularmente visado porque mostrou estar longe de um “mestre da tática”, uma vez que foi muito por culpa da estratégia errada de não “alargar” o jogo e atirar Rafa e Pizzi contra o betão do duplo pivô portista que o Benfica se viu derrotado. E por insistir no duo da frente que luta mas não assusta – porque mexeu no onze tão tarde? – e a partir de agora também porque vai ter de rever a dupla cá de trás, que confirmou estar verde para cavalarias altas. Sim, a imagem dos cavalos é boa, pois as cavalgadas de Marega e Zé Luís, e mais tarde as de Soares, deixaram os centrais da Luz a andar de burro. E faltou mais um golo de Marega – que passou por Ferro como faca por manteiga no lance do 0-2 – para piorar o mau.
Clareza e confusão. Mas as justificações de Bruno Lage, no final da partida, constituíram uma nova deceção, pela ausência da clareza a que nos habituou, desde ter dito que o Benfica foi melhor do que o adversário na segunda parte – e depois? – até à defesa de Samaris… por ter sido campeão na época passada! Por momentos, voltámos a ver as confusões de Rui Vitória quando a coisa dava para o torto.
A realidade move-se. Certo é que por preparação deficiente ou por os encarnados não terem acreditado na real capacidade do FC Porto, o resultado foi um desastre. A própria dispensa da concentração antes do clássico deu um sinal errado aos jogadores, que acreditaram que o alto ritmo competitivo anterior iria prosseguir sem abalos. Só que no futebol a realidade move-se depressa. Ontem, por exemplo, vimos uma excelente exibição de Romário Baró, mais um ex-sportinguista que está aí a lembrar que a “destruição” da Academia de Alcochete começou muito antes do assalto dos mascarados. Bruno Lage não tem esses problemas mas precisa de fazer “reset”: os cemitérios estão cheios de iluminados.
Contracrónica, Record, 25ago19
Bruno Lage tem de fazer reset
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