Alexandre Pais

Banalização da guerra: o drama seguinte

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O jornalista Alfredo Leite, da equipa do CM e da CMTV, foi um dos raros ‘maratonistas’ portugueses na tragédia da Ucrânia: 36 dias (!) no cenário de destruição e morte. Sim, porque se ir só ‘assinar o ponto’ já é de aplaudir, ficar por lá várias semanas merece uma ovação. Afinal, é em tempo de guerra que melhor se vê que o jornalismo está vivo e que é preciso ‘cavar’ a informação, ir buscá-la onde estiver. Os replicadores de notícias são parasitas da net.

Desgraçadamente, a invasão russa não acabará tão cedo e a tendência será a da ‘normalização’ da barbárie. Em breve, as aberturas dos telejornais serão dedicadas à subida dos preços, aos crimes ou às calamidades naturais. E às greves – que vêm aí em força, com o Governo a ser ‘bombardeado’ por todos os lados. Mais para diante, teremos então umas imagens do martírio, com corpos despedaçados de mulheres e crianças a passarem por olhos de telespectadores que deixaram de chorar. A banalização da guerra é o drama seguinte.

Um parágrafo final para o ‘suspense’ que o Chega criou com a entrada dos seus deputados no hemiciclo mesmo em cima do discurso de Zelensky. Chama-se a isso ter a noção perfeita do ‘timing’ do espetáculo. Quem não sabe que aprenda.

Antena paranoica, Correio da Manhã, 23abr22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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