Alexandre Pais

Antena paranóica: Lynch e a sua lei espreitam uma oportunidade

A

O caso do desaparecimento de
Rui Pedro é, como salientou Manuel Catarino nestas colunas, “o retrato perfeito
do pior da nossa justiça”. O calvário da família tem-nos afligido nos últimos
14 anos, já que em cima do insuportável sofrimento dos martirizados pais cai a
frustração colectiva pela impunidade de que goza o criminoso, seja lá quem for.
É muita dor junta para que haja conformação.

Quem não tem culpa disso é Carla
Fraga, a juíza de Lousada que proferiu uma sentença baseada não na indignação geral
mas na prova feita em tribunal. A vontade de encontrar um culpado não deve ser
mais forte do que a justiça, nem fazer correr o risco de se condenar um
inocente. Daí que a imagem daquela mulher histérica, quase possessa, que
gritava “assassino! assassino!”, incitando ao linchamento popular e olhando para
a criança que trazia ao colo, é do pior que a televisão nos podia mostrar.

Lynch e a sua torpe lei vivem
dentro de certa gente, na esperança, jamais perdida, de uma oportunidade. Não
os deixar sair é o dever de qualquer sociedade civilizada.

Antena paranóica, publicado na edição impressa do CM de 25 fevereiro 2012

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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