Alexandre Pais

A lição de Amândio Silva e a sua lenda

A
Amândio Silva na redação do Off-Side, há 34 anos, com o escriba e os jornalistas Mário Fernando (à esq.) e Marques Valentim (à dir.)
Ao longo da vida, tive oportunidade de conhecer pessoas fantásticas, algumas a que não dei, na altura, o valor devido – se até Deus se distrai, como vemos quase todos os dias na Síria, o que pode fazer um simples mortal?
Apresento hoje, não a todos mas seguramente à maioria dos leitores, o Amândio Silva, que neste 21 de abril está a comemorar 79 anos. Em 1983, o João Tito de Morais sugeriu que ele assinasse, no desportivo Off-Side, uma rubrica denominada Apontamento. Uma vez, chegámos ao dia de fecho e a edição encerrou sem o texto do Amândio, que se atrasara. Ele ficou irritado e disse-me – escreveu, mesmo – que merecia da minha parte a atenção de lhe lembrar o seu atraso.
Numa crónica de 1983, o Amândio referia a mudança no estilo da comunicação desportiva resultante do regresso de Artur Agostinho à RTP
Sou duro de roer e ainda assim a lição desfez-me. Porque ele não era um colunista qualquer, mas uma grande figura da oposição ao Estado Novo, que participara na revolta da Sé, em 1959 (ainda com 20 anos!), e desviara, em 1961 – com Palma Inácio, Camilo Mortágua e outros –, o avião da TAP que despejou sobre Lisboa, Barreiro, Beja e Faro milhares de panfletos contra o regime de Salazar. Afinal, o Amândio participou em movimentos como aqueles em que eu gostaria de ter participado se tivesse a sua coragem.
Não resisto agora, que o vejo com saúde e energia, e entusiasmo à frente da Associação Mares Navegados, a dizer-lhe o que a vida não permitiu que lhe dissesse há 34 anos: foi um gosto trabalhar e conviver contigo – e um privilégio conhecer-te, Amândio.
Parece que foi ontem, Sábado, 20ABR17
Amândio Silva, no final dos anos 80, com Vera Lagoa, e na atualidade, com a filha, a jornalista Moema Silva
 
Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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