Alexandre Pais

Alvalade: a noite da despedida inesquecível

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Nos últimos dez anos, tenho ido pouco ao futebol. Por um lado, o conforto de assistir aos jogos em casa, com todas as possibilidades que a técnica hoje nos proporciona, e por outro o bando de anormais que nos podem calhar na bancada fazem com que me mantenha afastado de um dos meus locais preferidos de sempre. Foi uma longa jornada essa, que começou com um tio, no antigo ‘estádio’ do Campo Grande, onde jogava o Benfica no início da década de 50, e continuou com o meu pai, que me arrastava para as Salésias, não fosse o rapaz ‘perder-se’. Prosseguiu ao correr da vida, mais no Restelo do que em Alvalade, acompanhando as filhas, infelizmente só a mais velha adepta firme do Belenenses, e terminou por dever de profissão, quando fosse necessário primeiro, ou me apetecesse mal passei a decisor único da agenda do dia.

Na terça-feira passada, a minha filha mais nova foi com o seu grupo ver o Sporting defrontar o City, e um amigo, que tem um camarote em Alvalade, convidou-me a acompanhá-lo. Participei, assim, numa noite revivalista, com um intenso ‘cheiro’ a Champions e recheada de motivos de interesse para além de ver os ‘meninos do Rúben’: a presença de uma das melhores equipas do Mundo, um público entusiasta, um estádio outra vez cheio, a vida pré-pandemia a regressar.

Só me arrependi um pouco quando os homens do City tinham a posse da bola e os fanáticos se punham a assobiar, muito, é certo, por causa de três adversários portugueses que renovaram, antes da partida e um tanto a despropósito, o benfiquismo que se lhes reconhece. Felizmente que essa animosidade foi baixando à medida que o marcador ia traçando o destino, embora mande a verdade que se refira a tremenda infelicidade do Sporting pela forma como sofreu os golos iniciais, que deitaram tudo abaixo.

Até porque tendo os ingleses outro ‘andamento’, podem ser travados, como se viu no sábado, derrotados em casa pelo Tottenham, carregadinho de estrelas. Como já lá tinham poucas, a Juventus mandou-lhes o Bentancur e o Kulusevski… Tivesse Rúben Amorim mais meios e logo veríamos.

Sim, o fanatismo irrita-me. Só vou a Fátima, por exemplo, quando o santuário, semidesértico, me permite disfrutar do silêncio e procurar o sinal que ainda não encontrei. Deixei igualmente de ter partido político, percebi cedo que não gostam que se pense pela própria cabeça. E só permaneço fiel ao ‘Belém’ porque clube não é algo que se abandone – morrerei, assim, a amar o emblema azul seja qual for o escalão em que o futebol do Restelo estiver. E sublinho isto porquê? Simplesmente para acrescentar, sem que algumas almas se ponham a inventar, que os dez (!) minutos de cânticos e aplausos com que os sportinguistas se despediram, de pé, de uma equipa que acabara de ser goleada, constituíram um dos mais belos momentos que tive o privilégio de presenciar – desde sempre e em qualquer campo de futebol. Extraordinário clube, extraordinários adeptos. Chapeau!

Não sei se Christian Eriksen ficou subitamente na miséria, se é doido ou se pretende apenas morrer em combate. Mas não mandaria o bom senso e o amor à família que antes de assinar pelo Brentford se aconselhasse, por exemplo, com os médicos que mandaram parar Iker Casillas? E no clube inglês, que o contratou, o juízo também não parece abundar…

Terminaram os Jogos Olímpicos de Inverno, que nos ofereceram duas semanas de competições magníficas. E foi bonito ver um país de cinco milhões de habitantes, a Noruega, ganhar mais medalhas, 37, do que grandes potências como Alemanha, China e Estados Unidos, prova de que havendo competência e entusiasmo há resultados. Quanto a proezas individuais, escolho uma: a da esquiadora de fundo Teresa Johaug, que conquistou por três vezes o ‘ouro’. Uma atleta absolutamente fantástica!

Parágrafo final para Podence e Bruno Fernandes, mais dois internacionais em excelente forma, prontos para o ‘ataque’ à Turquia, a 24 de março, no Dragão. Está quase…

Outra vez segunda-feira, Record, 21fev22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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