Quando os sócios do Belenenses decidiram, em assembleia geral, cortar com o negócio da Codecity, fui dos que manifestaram dúvidas pelo otimismo de então de Patrick Morais de Carvalho, que se propôs fazer subir a equipa dos distritais à Liga 1 em seis anos – mais tarde em sete porque nos meteram a Liga 3 pelo meio.
Li e ouvi diversas opiniões, a maioria própria de ‘velhos do Restelo’, que existindo em todas as organizações se sentem à vontadinha na encosta onde julgam que o seu magistério começou. E que dizem eles? O costume, com aquele espírito ácido e o permanente destilar de animosidade que, ano após ano, foram deitando o clube abaixo. É o treinador que não percebe nada daquilo, os jogadores que são fracos, o dirigente que quer é tacho, o presidente que, fazendo cozido ou frito, devia antes optar pelo assado… Só eles é que dominam as matérias, são umas encomendas.
Se há qualidade que se pode destacar em Patrick Morais de Carvalho é a capacidade de liderança: ele traçou o rumo e tomou as decisões que entendeu necessárias para atingir os objetivos. E não podemos agora, por ter faltado ontem aos ‘azuis’ um simples golo no Restelo – que tudo mudaria mesmo sem a desgraça do Cova da Piedade, que nos pode ‘salvar’ – pôr em causa o trabalho sério e competente desenvolvido em anos.
A questão para mim é outra. Se dirigentes experientes, conhecedores e avisados, e que andam há décadas no futebol, erram tantas vezes, estranho seria que o líder do ‘Belém’ tomasse o leme e acertasse sempre na escolha do treinador e do plantel. E de facto, como não subimos diretamente de divisão, temos de reconhecer que alguma coisa se podia ter feito melhor. O presidente, aliás, procedeu ao longo da temporada a diversas alterações e a equipa que terminou o campeonato era bem superior àquela que o iniciou. Não chegou? Pois não, paciência. É sinal de que – como temia – o projeto de regresso à liga principal dificilmente se concretizará em menos de oito ou dez anos. E ainda que fossem 20, valeria a pena.
O futebol vive do imponderável e isso ninguém consegue controlar. Ou seja, a tarefa a que Patrick e os bravos que o acompanham meteram ombros é uma verdadeira maratona, que só pode ser corrida por atletas com um enorme espírito de sacrifício, determinação de ferro e coragem à prova de bala. É para homens, não para garotos. E felicitando o presidente do meu clube pelo muito que já realizou, daqui o incentivo – e sei que não seria preciso – a continuar na luta, com a certeza de vencer.
O Real Madrid ganhou a final da Champions pela velha ‘fórmula’ que manda aguentar a entrada de rompante do adversário, deixá-lo perder ‘gás’, explorar o contra-ataque e marcar o golinho da ordem. Nada mais simples.
E dou os parabéns a José Mourinho pela ‘quinta’, embora me confesse bastante preocupado com a situação em que se encontra tanta gente: com azia, dores de cotovelo e uma inveja que a corrói por dentro, o que não é necessariamente mau.
Último parágrafo para a nova edição, revista e atualizada, da biografia oficial ‘(E)ternamente Eusébio’, há dias lançada no Estádio da Luz. O autor não podia ser outro: João Malheiro, um dos maiores amigos do ‘King’ e uma autêntica autoridade na matéria. Chapeau!
Outra vez segunda-feira, Record, 30mai22