Alexandre Pais

A minha geração, Mário Soares e a descolonização – escreve António Ribeiro

A

Com a devida vénia, aqui reproduzo o post hoje publicado pelo meu amigo António Ribeiro na sua conta do Facebook.
Aceito e compreendo que haja algumas pessoas que não gostem de Mário Soares. Afinal de contas, ele sempre lutou para que cada qual pudesse exprimir livremente a sua opinião, sem consequências. A isso chama-se Democracia. Só não compreendo é que haja uns quantos que venham aqui ser malcriados na casa dos outros. A todos os que apanhei por cá, descompostos e agressivos, dei-lhes o devido correctivo. Não tanto por pensarem diferente de mim e da grande maioria, porque sabem que isso aceito bem; mas por terem sido, em alguns casos, grosseiros e boçais, injustos e fascistóides. Aqui ninguém precisa de pensar o mesmo que eu, mas tem de saber respeitar o espaço que não é o seu.
Constato também que os maiores disparates hoje proferidos, aqui e em muitos outros lados, têm ainda hoje a ver (sobretudo) com o processo da descolonização de Angola. A esses eu peço, ainda mais uma vez, que se lembrem dos factos históricos. Que tenham presentes os dez preciosos anos que Salazar perdeu, rígido e empedernido, sem negociar nada com ninguém. Que releiam os jornais de Abril e Maio de 1974, hoje todos disponíveis na Net, onde se verifica que não havia condições físicas, humanas e psicológicas para contrariar a força da História.
Dou a esses recalcitrantes, como exemplo, o meu caso. É o exemplo de um entre muitos outros. A minha família nunca teve nada a ver com Angola e eu também não. Nunca de lá tirámos um centavo, nem a tal almejámos. E eu, que viajei por quase cem países, nunca lá pus os pés uma única vez até hoje, e isso não foi por acaso. Porque Angola não era o meu mundo e esse mundo não me interessava,  nem me interessa pessoalmente, ainda hoje. Assim, foi realmente muito insensato alguém imaginar que uma pessoa como eu aceitasse sair daqui para ir lutar em Angola, de armas na mão, por uma causa que eu repudiava totalmente e que, ademais, contrariava tudo o que eu queria para o futuro do meu país. É tão simples como isso.
Por isso, é forçoso reconhecer que a  independência de Angola foi a possível, em 1974-1975, tendo presente a guerra civil no terreno e o completo alheamento que a minha geração tinha pelo conflito. É uma estupidez acreditar que um político, qualquer que ele fosse, mesmo sendo o talentoso e internacionalmente influente Mário Soares, pudesse ter alterado, em tais circunstâncias, o rumo dos acontecimentos.
É a última vez que explico isto, que devia ser tão óbvio, aos parvalhões que ainda hoje, mais de 40 anos passados, continuam a escrever e a dizer que Mário Soares podia ter feito mais, melhor, ou diferente. Mas com que meios humanos, materiais, militares, ou políticos? Ele não podia, mesmo que quisesse, fazer diferente, porque nós, os da minha geração, não o queríamos! Nisso, Salazar teve em seu tempo alguma razão. Quando ele disse que a guerra se “perdia” na retaguarda. E foi isso mesmo o que aconteceu. Porque a “nossa” retaguarda, que era o meu país, queria Democracia, Liberdade e Descolonização. Não queria mais Angola! E estávamos no nosso direito. Lamento muito, mas a vida é mesmo assim e há coisas que têm de ser ditas com toda a clareza. Agora já perceberam, ou ainda vão precisar de mais 40 anos?

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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