Alexandre Pais

A ilusão do fiado

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Ao longo da última década, dezenas de especialistas em economia comentaram, nos diversos canais, a baixa inflação, alertando regularmente para o que sucederia quando voltassem as vacas magras – assim uma espécie do ‘diabo’ a que se referia Passos Coelho, para mal dos seus pecados porque desde 2015 que anda a ser gozado.

A ilusão do crédito barato – para não perder muito tempo com a irracionalidade que era os bancos emprestarem dinheiro e terem de ‘compensar’ com juros os devedores – levou aquela faixa de portugueses que sempre corre alegremente para o precipício a ganhar hábitos de consumo para os quais não tem rendimentos. Gastar o que não se ganha, pedir fiado e atirar as dívidas para a frente, recorrendo a novos empréstimos para pagar os anteriores, passou a ser a ‘filosofia de vida’ de muitas famílias.

Longe vão os anos em que se vivia com o que se tinha – e que tantas vezes era tão pouco – e em que se poupava para acudir aos imprevistos e à velhice. Portugal mudou e hoje queremos serviços gratuitos, impostos baixos, subsídios para tudo e aumentos de salários como se houvesse fábricas de notas nas caves das empresas. Se 2023 for o que preveem os catastrofistas, vai correr mal. Muito mal.

Antena paranoica, Correio da Manhã, 12nov22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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