Alexandre Pais

A caravela que levou ao Brasil o Portugal democrático

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Em 1976, Mário Soares, então primeiro-ministro do I Governo Constitucional, partia de Lisboa para uma viagem no Fernão de Magalhães – apropriado nome o dessa caravela da TAP – cujo destino era o Brasil, com Rio, São Paulo, Brasília e Baía no itinerário, e uma escala no Sal, em Cabo Verde, no regresso. Um regresso atribulado porque o nevoeiro só permitiu a aterragem em Faro, quando, no final de uma extenuante semana de faz e desfaz malas, queríamos era aterrar em casa.

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Mário Soares e Medeiros Ferreira, ministro dos Negócios Estrangeiros, descem do Fernão de Magalhães no Rio de Janeiro
Foi uma viagem histórica pelo simbolismo da primeira visita do Portugal democrático  e pela recepção fria dos emigrantes portugueses ao líder de um Governo que viam como excessivamente revolucionário… E, em São Paulo, a imagem inesquecível: Soares, com a segurança em pânico, a avançar sozinho para cumprimentar meia centena de compatriotas que exibiam bandeiras nacionais e expressões de cortar à faca. Uma dezena de apertos de mão lá esbateram a tensão e provocaram alguns sorrisos… Grande momento!
Brasil76
Os primeiros cumprimentos após o desembarque no aeroporto de Congonhas, em São Paulo
Francisco Sousa Tavares: “Ò Mário, demita-me o Gomes Mota!”
Depois do avião presidencial aterrar em Faro, a TAP não conseguiu dar resposta. O caos instalou-se no hall do hotel Dona Filipa, em Vale do Lobo, com malas desaparecidas e o general Firmino Miguel, ministro da Defesa, obrigado até a ir procurar a sua nos porões do Fernão de Magalhães. Foi aí que Francisco Sousa Tavares, director de “A Capital”, gritou para Soares: “Ò Mário, demita-me o Gomes Mota! Demita-me o Gomes Mota!” Mas o então presidente da TAP, amigo do Presidente, resistiria…
Sal76
No aeroporto do Sal, onde se encontraram Mário Soares e Pedro Pires, a segurança era a sério…
Parece que foi ontem, Sábado, 30DEZ14

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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