Alexandre Pais

Cristina Ferreira, a princesa da Malveira

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Se a qualidade fosse sinónimo de quantidade, Mariza venderia mais discos do que Toni Carreira, ele que me desculpe a comparação, pois é bom, muito bom, naquilo que faz. Nos gloriosos tempos do Diário de Lisboa, em finais dos anos 60 e início da década de 70, aprendi a ver televisão com Mário Castrim, passei a desfrutar de melhor cinema através das opiniões de Lauro António, compreendi que havia bom e mau teatro lendo as críticas de Carlos Porto, descobri o melhor da música com os textos densos mas esclarecedores do meu amigo Nuno Barreiros. Curiosamente, essa foi a época em que os dois concorrentes do DL no mercado vespertino – é verdade, pelas 4 horas da tarde tínhamos três jornais na rua… – o Diário Popular e A Capital, que apostavam já num conteúdo mais ligeiro e próximo dos problemas dos leitores, ultrapassaram em tiragens e vendas, ainda que sem destino mais feliz no final, como sabemos, o título dirigido por António Ruella Ramos.
A história repete-se nos nossos dias, tanto nos projetos como nos protagonistas. Veja-se, a título de exemplo, os casos de três profissionais de méritos firmados, como Bárbara Guimarães, que chegou a fazer programas com António Vitorino de Almeida antes de ter de se render ao popular, de Alexandra Lencastre, que está hoje nos bastidores da Casa dos Segredos, ou de Rita Ferro Rodrigues, que passou da informação séria para o convite aos telespetadores para que liguem o telefone tal e tentem ganhar milhares de euros.
O tempo proporcionou-me a lição seguinte às que recebi com a leitura do Diário de Lisboa e mais tarde com a minha integração na sua redação: profissional bom é o que faz bem aquilo que deve ser feito – e que aceitou fazer. Há, seguramente, na revista Maria alguns jornalistas melhores do que outros que assentam praça no Público, como haverá piores também, é assim a vida.
Há semanas, uma concorrente da Casa dos Segredos classificou Cristina Ferreira como pindérica, o que levou a imprensa da especialidade a anunciar que a apresentadora iria processar a moça, de si, aliás, inimputável. Como se estivéssemos perante uma ofensa ou o comentário fosse pior do que muitos chamam à princesa da Malveira. E depois? E se ela for pindérica para metade do país e a outra metade, porque gosta do estilo e da personalidade de Cristina, se colar à TVI e com isso rebentar com as audiências da concorrência?
Perguntarão leitores dados ao preconceito: mas a pequena não tem um riso brega, não diz frases ocas, não gosta de brejeirices, não é apresentadora de programas de futilidades? Digam o que quiserem. A verdade é que faz bem o seu trabalho e isso dói a quem não sabe ou não é capaz. Chapeau, Cristina!
Observador, Sábado, 21NOV13

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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