Alexandre Pais

Cristiano Ronaldo e as injustiças da vida

C

Cristiano Ronaldo vive aquele que pode ser o momento mais alto da sua carreira, pese o facto de nos últimos tempos se ter repetido essa ideia a propósito das suas proezas futebolísticas. A verdade é que CR7 continua a pulverizar recordes e após o jogo contra a Suécia mais dois, pelo menos, tinham caído: alcançou Pauleta no top dos marcadores de sempre da Seleção, com 47 golos, e soma já, a cinco semanas do final de 2013, 66 remates vitoriosos em jogos oficiais, o que constitui o seu melhor ano de sempre. Também igualou Eusébio com este segundo “hat trick”, pelo que a pergunta é inevitável: irá ainda mais longe em 2014? Conhecendo “la bestia”, ninguém ousa arriscar a resposta.
Certos intelectuais de pacotilha, daqueles que falam de cátedra das mais fabulosas e importantes coisas, e de cenho franzido analisam os males que atormentam o Mundo, odeiam Cristiano e o que ele representa: a subida do zero através de uma bola – que veem como a vitória da matéria sobre o espírito – e como se enganam! – e o poder do futebol, que consideram desmesurado por não constituir uma arte antes de ser negócio – e assim se enganam de novo.
O que por vezes incomoda no fenómeno Cristiano é o aproveitamento que alguns fazem da popularidade do jogador, de que são exemplo os comentadores de política e literatura que gostam de alargar a sua erudição ao futebol sem nada acrescentarem, ou os ministros que misturam supostas “indignações” por uma simples bebedeira do sr. Blatter com o anúncio de mais cortes de salários e pensões, como se um qualquer “desrespeito” por Portugal se pudesse comparar à desgraça que se abateu sobre os portugueses.
Cristiano Ronaldo deve ser tratado com conta, peso e medida, sendo seguro que essas variáveis ascenderam a quotas altíssimas. Eu adorava que Mariza, Joana Vasconcelos ou António Damásio, com a devida vénia, fossem conhecidos na China ou na Austrália, nos casinos de Las Vegas ou na mais recôndita aldeia da Indonésia. Acontece que não são, a vida é injusta. Mas é o que se passa com Cristiano, pelo profissional que é e pelo artista global em que se tornou. O resto é conversa.
Canto direto, Record, 23NOV13

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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