Alexandre Pais

Um texto, um protesto, o FC Porto, a isenção de Record e a resposta da QdoC

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De: Paulo Rodrigues
Enviada: terça-feira, 15 de Março de 2011 16:01
Para: Record
Assunto: ATT: Sr. Alexandre Pais

Exmo. Sr. Alexandre Pais

Creio que estará cansado de receber emails repletos de conteúdos reprováveis, tanto na forma como na substância.

Nem todos conseguem dar um raciocínio às razões da sua revolta ou desconforto, assim como poucos serão os que, identificando e raciocinando com clareza, têm a aptidão de colocar em texto a justeza das suas convicções.

Serve este preâmbulo para manifestar a minha compreensão pela forma como por vezes aborda os leitores que o contactam, como é o caso daquele que apelidou de analfabeto.

Escrito o preâmbulo devo dizer-lhe o seguinte, fazendo também uma declaração de intenções:

Sou adepto do FC Porto, habitante da cidade do Porto, regionalista convicto e sem qualquer cor partidária (o que não é sinónimo de ser apolítico).

Não tenho qualquer problema em compreender motivos comerciais para uma estratégia virada para sul ou para norte nos princípios editoriais de um jornal, mas causa-me verdadeira confusão o tratamento que o Jornal Record dá ao clube do qual sou adepto e muito mais, quando comparado com o tratamento que se regista face ao principal rival.

Para um jornal que se supõe e se afirma isento, as capas que desta publicação constituem uma autêntica declaração de inimizade perante o FC Porto e os seus adeptos. Quem se der ao trabalho de pesquisar, verificará facilmente a justeza do que afirmo. Muito raramente, o FC Porto é notícia principal deste jornal. As excepções ocorrem quando o FC Porto se sagra campeão, quando perde ou quando existe matéria noticiosa negativa para o FC Porto.

Como é lógico, a maioria dos adeptos do FC Porto considera este jornal como fazendo parte dos adversários, ou da propaganda mediática dos mesmos e é uma pena.

É uma pena porque existem bons jornalistas no vosso jornal. É uma pena porque o profissionalismo do vosso jornal é evidente.

E é uma pena porque os adeptos do FC Porto merecem mais respeito.

Existem imensos exemplos que poderiam explicar e justificar o que afirmo, o mais evidente de todos ocorreu na famosa meia-final da taça UEFA que o FC Porto viria a vencer.

Nada disto me causaria confusão se, a exemplo do que fiz no início deste texto, o jornal optasse por fazer uma declaração de intenções, mas tal nunca sucedeu. O Jornal Record contínua a apresentar-se como sendo absolutamente isento, mas como o senhor e eu bem sabemos, isso não é verdade.

A isenção pressupõe igualdade de tratamento para factos semelhantes a análise ponderada e desapaixonada dos assuntos tratados.

Num outro assunto, enviei-lhe um fotograma com imagens da “dança” verificada entre Javi e Alan. Nessas imagens é notório o contacto da mão de Javi com o corpo de Alan. Sinceramente, não compreendo o título que deu à imagem. Talvez o problema seja meu, mas sempre lhe digo que mesmo sendo um simples adepto, penso pela própria cabeça e não recebo lições de isenção de ninguém.

Ainda a propósito do adepto que apelidou de analfabeto, devo registar que apesar das óbvias limitações na linguagem desse leitor (vosso cliente portanto), na resposta que deu, em ponto algum desmontou o que o citado leitor em jeito de pergunta afirmou. O senhor limitou-se a responder, não na mesma moeda mas com o intuito claro de dar um “bofetada de luva branca”.

Quando se argumenta, convém tentar desmontar os pontos de vista do oponente, caso contrário, um possível diálogo transforma-se em monólogos separados.

Nota: A exemplo do e-mail anterior, solicito que independentemente do tratamento dado ao texto que lhe envio, mantenha o meu endereço confidencial.

Grato pela atenção com que terá lido o que escrevi.

Sem outro assunto de momento, melhores cumprimentos

Paulo Rodrigues

Nota da QdoC – Este texto assinado por um leitor que, além do mais, escreve bem, justifica a resposta que lhe dou aqui com todo o gosto.

1. Cansado, jamais!

2. “O tratamento que o Jornal Record dá ao clube” do qual é adepto é diretamente proporcional às facilidades e às dificuldades que o seu clube nos dá para realizarmos o nosso trabalho.

3. As capas do Record não “constituem uma autêntica declaração de inimizade perante o FC Porto”, como diz, já que nem essa inimizade existe, nem as primeiras páginas do Record são feitas em função das simpatias ou das antipatias de quem quer que seja. Existe o interesse jornalístico, como existem as opções editoriais e como existe o mercado, mas o que verdadeiramente conta é o “olhar do público”.

4. Se o FC Porto nos nega a informação e nos dificulta a vida, se os seus dirigentes criticam publicamente o jornal e apelam assim à sua não compra, iríamos fazer manchetes para um público, para um olhar do público que se insiste em reduzir?

5. Recordo que as relações cortadas entre o seu clube e a Cofina são anteriores a 2003, ano da minha chegada ao jornal. O FC Porto teima em não as reatar e o Record, que já deu esse primeiro passo com dignidade mas sem êxito, não se irá rebaixar.

6. Não há “declaração de intenções” a fazer porque mesmo que não houvesse um único leitor portista a ler o Record, o que nunca acontecerá, o seu clube estaria, para o jornal, em plano idêntico aos dos outros exceto… na dimensão e qualidade da informação. Se não a temos, não a podemos disponibilizar.

7. Pelo fotograma que me enviou, e que publiquei, não se prova a agressão do Javi. Não digo se houve ou não houve, nem sequer vi o jogo, digo apenas que pelo frame… nada feito.

8. Nem leitor, nem cliente. De um mail daqueles nada disso se deduz. Alguém lhe disse para insultar e ele insultou. Nem sabemos do que está a falar – e se calhar até nem ele sabe.

9. Responder a quê, a que pergunta? Nem vejo uma pergunta, só leio uma insinuação torpe, nem obviamente estou aqui para responder a quem faz perguntas. Respondo só a quem quero, a quem me merece consideração, nada mais.

10. E se lhe chamei “analfabeto” baseei-me num facto, num erro ortográfico grosseiro. Ele não, ele insulta todos os jornalistas de Record, chamando-lhes ” burros”, sem dizer porquê. Isso não o choca a si? É que não o refere… Ou seja, bons são os insultos, más são as respostas.

11. Como vê, li-o com toda a atenção. A atenção devida, acrescento.

Disponha! 

Por Alexandre Pais
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