Gosto da personalidade de Vercauteren, da sua discreção, da sua simplicidade e da imensa paciência que demonstra possuir, para fazer, e fazer bem, neste dificílimo momento da vida do Sporting, o seu trabalho. Concordei também com a opção de Godinho Lopes pela contratação de um treinador estrangeiro, depois das apostas falhadas – falhadas ali e na altura em que foram feitas – em Carlos Carvalhal, Paulo Sérgio, José Couceiro, Domingos Paciência, Sá Pinto e Oceano. Vir um belga de outro planeta foi a decisão mais prudente. Mas…
Mas dou comigo a pensar no reconhecimento da competência dos técnicos portugueses por esse Mundo fora, desfrutando alguns do simples aproveitamento do “efeito Mourinho”, mas tendo a maioria provado já com resultados que pouco ou nada tem para aprender com nomes apenas mais mediáticos.
É nesse quadro que a vinda de Vercauteren se assume como um paradoxo. Num país que exporta treinadores de sucesso – de José Mourinho a Fernando Santos, passando por Carlos Queiroz, Manuel José, Leonardo Jardim, André Villas-Boas, Jesualdo Ferreira, Rui Águas, António Simões, Toni, Nelo Vingada ou Jaime Pacheco, para citar só os que me vieram agora à memória – e que tem Jorge Jesus e Vítor Pereira à frente de Benfica e FC Porto, sem que se consiga descortinar quem pudesse fazer melhor, não se encontrou um técnico com o perfil adequado para dirigir um dos “grandes”, mesmo contando que a atual fase de frenética perturbação sportinguista quase exigiria que do planeta Krypton pudesse chegar a Alvalade um novo super-homem.
Esse pode ser o primeiro problema dos leões, à frente até da dramática questão financeira: a sua transformação numa fogueira que queima dirigentes, jogadores e treinadores de qualidade, de forma insaciável. E de fogo tão cruel só poderão restar cinzas. Que Deus salve o Sporting.
Canto direto, crónica publicada na edição impressa de Record de 8 dezembro 2012