Alexandre Pais

Uma pancada valente e uma trama do diabo

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Vou tratar hoje de um evento importante com uma semana de atraso. Na altura em que escrevi a crónica de há oito dias, não tinha condições de me referir, como desejava, ao brutal duelo que opôs Roger Federer a Novak Djokovic, na final de Wimbledon, o mais conceituado torneio de ténis do Planeta. E tudo porque Federer me causou uma das maiores deceções da minha vida de espectador. Estou habituado a ver perder aqueles de quem gosto, afinal são longos anos de estrada – e muitas idas ao Restelo… – mas custa particularmente perder quando já se julgava ter ganho. E se mete Federer, pior ainda. Foi uma pancada das valentes.
Os adeptos do ténis dividem-se quanto ao melhor jogador de sempre. Uns, talvez a maioria, optam pelo talento puro, inigualável, de Roger Federer. Outros, preferem o misto de determinação e qualidade competitiva de Rafael Nadal. Num terceiro grupo, reúnem-se os fãs de Novak Djokovic, número 1 mundial e campeão indiscutível na competência física colocada ao serviço do jogo. E pela carreira de todos responde, igualmente, uma força mental própria dos maiores atletas de qualquer modalidade. Que faltava, por exemplo, a Fernando Mamede, a “máquina humana” mais extraordinária com que trabalhou o lendário Moniz Pereira. Superior à de Carlos Lopes, queria o professor dizer com isso.
Inflexível admirador de Federer, sou obviamente dos que consideram o suíço como o melhor tenista de todos os tempos. E por isso tenho sofrido, nos últimos anos, desilusões violentas, que por estranho que pareça não têm a ver com a diminuição da capacidade atlética de um jogador de quase 38 anos, mas com a quebra da sua resistência anímica, como a que se verificou na final de Wimbledon.
Vimos, sem dúvida, um dos grandes encontros da história do ténis, que se resolveu ao cabo de cinco horas (!), com emoção até ao ponto decisivo. Dois dias antes, Federer vencera Nadal – que o derrotara em junho, em Roland Garros – e apresentava-se perante Djokovic em forma magnífica, sendo impossível apontar um favorito. O sérvio tem menos seis anos, Roger leva vantagem na relva.
De facto, tudo esteve equilibrado até ao 7-7 da quinta e derradeira partida. Foi aí, no serviço de Novak, que Federer conseguiu o “break”, passou a liderar por 8-7, serviu para supostamente fechar o encontro e chegou aos 40-15. Com dois “match points” para conquistar o seu 21.º Grand Slam…
O público, sempre do lado de Roger, estava em delírio e, levianamente, não tinha – não tivemos… – em conta que “Nole” tem um corpo de borracha e uma cabeça de ferro, e que morre não quando deixa de respirar mas só depois do caixão se cobrir de terra… E a verdade é que o “ás” definitivo de Federer não apareceu – e somou 25 nessa tarde! – e o suíço perdeu o primeiro ponto, esfumando-se também o segundo com a resposta de Djokovic a bater “dentro” por milímetros – sorte madrasta, trama do diabo. No camarote, Mirka Federer desesperava, mas o consorte falhou o 9-7, não recuperou a confiança e, após o 12-12, quebrou no “tiebreak”. O terceiro, porque já perdera os outros dois… Um autêntico pesadelo!
Lambo as feridas, afinal, sou um veterano da guerra. E enquanto não é tempo do open de Flushing Meadows e de novo sofrimento, acompanho a rapaziada das pastilhas a subir as paredes do Tour e vou vendo futebol aos soluços, em estágio para a febre da bola que se aproxima. Enfim, podia ser pior.
Outra vez segunda-feira, Record, 22jul19

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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