Criticada pela gritaria, Cristina Ferreira encontrou, com essa caraterística, a sua praia. Fosse ela diferente e menor seria o seu sucesso. Goste-se ou não, criou um estilo que agrada a muita gente, embora não à maioria – um mito urbano.
Trata-se, aliás, de caso semelhante ao de Passos Coelho, que ganhou as eleições de 2015, não conseguindo seduzir 60 por cento dos eleitores. Vejamos as audiências médias da manhã de quarta-feira: “O programa da Cristina”, da SIC, teve 344 mil espectadores, o “Você na TV!”, da TVI, 240 mil, e as “7 maravilhas doces de Portugal”, da RTP1, 190 mil, ou seja, Cristina foi vista por menos 86 mil pessoas do que as “concorrentes unidas”.
Esse pormenor em nada diminuiu os seus méritos, ora reforçados por um registo alternativo. A meio do programa, quando chega a hora da tragédia e é preciso pôr o pessoal a chorar, Cristina fica subitamente afónica, não fala, sussurra. E adota a técnica tanto perante a mãe que perdeu o filho, como no diálogo banal com a mulher que anda a tentar engravidar…
Quem julgar que Cristina é uma moda que a rotina acabará por tragar, desengane-se: ela autocontempla-se menos do que se pensa. E o seu murmúrio funciona tão bem como o espalhafato – é o fenómeno a regenerar-se.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 20jul19
O murmúrio de Cristina Ferreira
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