Alguns treinadores, de que Lopetegui foi o último exemplo entre nós, têm por hábito exigir aos clubes não só a inevitável contratação de um séquito de adjuntos de confiança, como a de jogadores sobre os quais colocam o selo de garantia. Depois, um dia, partem com os amigos e não levam os entronchos.
Compreendo o princípio: não se consegue liderar um projeto se houver demasiados inimigos atrás da porta e se não se puder constituir uma equipa que os identifique, controle e comece a correr com eles. E quando me refiro a inimigos estou a pensar nos mais perigosos, aqueles que sorriem, fingem seguir o líder e encravam a engrenagem a cada passo. No caso do futebol, esses “fingem que chutam” contam com a realidade financeira que os protege: não é possível renovar um plantel a cada treinador que chega.
Sublinho isto antes de me referir à situação do FC Porto, líder do campeonato com 3 pontos de avanço sobre o Sporting e de 5 sobre o Benfica, poucas semanas após as loas tecidas aos encarnados, tetracampeões e já quase penta, e aos leões, enfim seguros do “este ano é que é”. Continuando de pé as probabilidades de êxito dos emblemas lisboetas, o certo é que os portistas, quase sem se reforçarem, surgem já, de forma talvez inesperada, no lugar da frente.
Lembramo-nos bem da letra da canção da última época: Aboubakar e Diego Reyes despachados a grande velocidade, Marega considerado imprestável, Brahimi carimbado para venda, Herrera tratado como coxo, e até Casillas parecia meio flop – e caríssimo, como logo acrescentavam os avençados.
Foi esse cenário de guerra que recebeu Sérgio Conceição, um homem da casa cujo destino, passados os salamaleques iniciais, se julgava idêntico ao do “somos Porto”. Mas os tiros saíram pela culatra. É que ao invés de se pôr com acertos de contas que deixam marcas, de se desculpar com os defeitos que todos têm e sabendo que não existem no mercado, e ao alcance do FC Porto, melhores jogadores do que aqueles que encontrou, Sérgio optou pelo voto de confiança nas tropas e por fazer o trabalho: tentar retirar dos seus homens o que de positivo têm para dar. E estando a conseguir formar uma boa equipa, cuidado. Uma eventual vitória no domingo, em Alvalade, que deixaria o Sporting de novo a 5 pontos, poderia representar para os dragões um tónico que nenhum inêxito europeu travaria, e para os rivais um mergulho no escuro de consequências imprevisíveis.
O parágrafo final vai hoje para o Belenenses, que nas primeiras seis jornadas se julgava destinado a lutar para não descer de divisão e que baralhou as certezas dos críticos – em que me incluo – com a exibição na Feira e a clareza do resultado. Foi uma resposta concludente dos jogadores e também de Domingos Paciência, a quem nada se perdoa quando os azuis perdem e que merece agora um aceno de estímulo e simpatia. Por mim, já meti a viola no saco.
Outra vez segunda-feira, Record, 25SET17