Alexandre Pais

Reflexões de inverno – 4

R

1. Admiro a coragem da exposição mediática de Manuel Forjaz, até por ser incapaz de lhe tomar o exemplo. Sofro de cancro por interposta pessoa – sim, é bem verdade que quando alguém da nossa família é atingido, todos temos cancro – e o que menos sinto vontade é de falar da cobarde e tenebrosa criatura. Valorizo muito, por isso, quem dá testemunho do combate e incentiva outras vítimas a não desistirem da luta e a tentarem seguir em frente.
2. As vendas de carros em Portugal, que já tinham subido 12% em 2013, em relação ao ano anterior, aumentaram em janeiro último 32%, o segundo maior boom da União, onde a média de crescimento foi de 5,5%. Razão assistia a Fernando Ulrich quando proferiu a expressão “aguenta, aguenta”, tão atacada pelos espíritos mais sensíveis. O maior drama do inexistente milagre económico português é que as razões da crise que atravessamos não entram na cabeça de algumas pessoas. E mal vislumbram uma pequenina e ilusória aberta, aí estão elas a gastar e a endividar-se, convencidas que nos pregaram apenas um susto e que os velhos tempos voltaram.
3. A mais que provável entrada da Guiné Equatorial na CPLP, para além de uma aberração – que língua ou outro laço forte nos aproxima de uma das mais antigas e cruéis ditaduras do Mundo? – é uma derrota da democracia perante a barbárie.
4. Reina grande felicidade na Ucrânia, na União Europeia e nos Estados Unidos pela queda de Ianukovitch, os protestos não foram em vão. O problema é que os cofres do estado estão vazios e já vai a caminho o fogo amigo das instituições financeiras internacionais. Antevemos, por desgraçada experiência própria, as décadas de prosperidade que esperam os ucranianos, condenados à miséria. Pobres vítimas da Praça da Independência, morreram para quê?
5. Estou desejoso por conhecer, após dois meses de chuva sem fim, o nível das barragens do Sado e do Arade, famosas por não encherem quando todas as outras alcançam as cotas máximas. Hum… alguém as sobredimensionou.
6. Notável referência de Pedro Santana Lopes, no congresso do PSD, a um dos maiores falhanços dos 40 anos do regime: a saúde. Se nunca foi brilhante, pior ficou com a trágica redução de recursos. Mas a falta de uma rede eficaz de cuidados paliativos, que apoie em especial quem é doente, velho ou pobre, ou tudo em simultâneo, é uma chaga social que precisa de muita ausência de sentido de justiça e de vergonha para continuar aberta.
7. Paulo Rangel atacou violentamente António José Seguro e intimou-o a indicar já o candidato do PS às eleições europeias. E não é que o líder socialista lhe obedeceu? Se fosse mais novo, emigrava, mesmo para a Ucrânia.
Observador, Sábado, 27FEV14

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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